Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

quarta-feira, abril 21, 2004

“Há três tipos de homens... Os vivos, os mortos e os que andam no mar”
Platão


Os amores impossíveis.....

O ... não vive em função de projectos, vive um dia de cada vez. Agora viaja, daqui a dez anos sabe-se lá o que estará a fazer.
O ... gosta de A ... e tem pena de não poder dar-lhe mais. Mas para um surfista não há força maior que a atracção pela próxima onda. E para um surfista em viagem pela vida, a próxima onda não é apenas a do próximo set, é também a do próximo continente. Um surfista em viagem é como um marinheiro, só que, em vez de ter uma mulher em cada porto, um surfista sonha com uma onda em cada praia.
O ... gostaria de preencher o instinto maternal de A ... com sua virilidade, gostaria de lhe meter um filho ao mundo e depois de lhe acompanhar a maturidade pelas décadas fora, gostaria de lhe construir um lar.
Mas a existência de O ... é uma sucessão de portas abertas, correntes de ar do exterior, raios de luz que atravessam janelas escancaradas, telhados descobertos. A casa de O ... é o mundo inteiro.
O ... ama A ... embora à sua maneira. Os seus olhos são doces e transparentes quando olham fundo dos olhos de A .... as suas promessas têm limites sensatos e uma indefinição sincera.
As mãos de O ... acariciam o corpo de A ... com a mesma intensidade duma troca de olhares entre um marinheiro e uma sereia. Dois olhares que se cruzam durante um momento, que concentra tudo o que poderia ter dito, tudo o que se poderia ter feito, tudo o que poderia ter sido.
É assim que O ... deseja e possui A ..., é assim que ele se entrega emocionalmente a ela. O ... ama A ... com a paixão desesperada dos amantes que têm os segundos contados. O amor de O .. é uma sucessão de emoções intensas, a vida é uma vertigem de suspiros.
O ... ama A ... pelo efeito que A ... provoca em O ...
O ... sabe que A ... é um amor de passagem, um amor de uma só vida e não mais, mas não se importa. Nunca se sentiu assim Homem com outra como se sente com ela. Quando O ... lhe percorre a coluna suada e arquejante, quando abraça a cintura estreita, quando lhe toca, quando a beija, nada ,mais importa a O ..., só o prazer e a liberdade. O ... ama A ... sem limites, sem horizontes, sem remorsos.
É assim que O ... deseja A ..., é assim que se entrega emocionalmente, é assim que O ... ama.
A vida é o amor, e o amor uma viagem. O amor escreve-se com saliva e suor, com sal e maresia. Escreve-se com brisas suaves e luares prateados, tardes laranja e recifes salgados. O “amor” escreve-se “mar” numa outra lingua esquecida, num olhar perdido, num tempo longinquo.
O ... sempre foi e sempre será um Homem do mar.
O ... ama A ... pelo efeito que A ... provoca em O ... ou será o contrário?

Gonçalo Cadilhe
07.05.2002

Que lágrimas amargas estas da tristeza de não Ter alegria...
A alegria de partilhar o entusiasmo, a extasiante inspiração de viver, nos limites, na penumbra, nas sombras da sociedade, mas acima de viver e fantasiar como será da próxima vez que encararmos o dia, que se aproxima a passos galopantes de gigante, para nos assombrar a noite com o fantasma de poder não chegar tão pouco.
A alegria de Ter apenas e somente um rosto alegre à nossa frente, quanto não seja unicamente o nosso refletido nas tuas lágrimas, que pretendemos enxugar.
A alegria de conseguir com uma palete de preto criar todas as cores do arco íris e outras tantas que ficaram por pintar.
A alegria de nos sentarmos a uma mesa rodeados de caras amistosas e acalmantes, familiares, ou em redor de timidas labaredas, na intimidade de um vasto areal.
A alegria de repartir a intensidade de um dia inesquecivel, ao pôr do sol, e dar graças a Deus por nos Ter concedido esta sumária felicidade, que compõe as nossas melhores memórias, as nossas recordações, a nossa essência.
A alegria de todos dias assistirmos ao milagre da vida, da criação, contrabalançando a misteriosa e sem sentido destruição.
Afinal, que lágrimas amargas estas da tristeza de Ter e não poder viver...

18.02.00

"Viagem Negra"
Sinto o apodrecer cá dentro..a corromper as minhas entranhas imundas de indiferença,
lentamente, como um pequeno cancro q alastra e alastra,devorando tudo em seu redor,
sem qualquer abrandamento piedoso.
Tento saltar o fosso...mas é já largo demais até para as minhas pernas desejosas de
desafios..desisto..já não há nada que possa fazer nesse vosso lado.
Sempre assumi sozinho as minhas lutas...Foi um erro julgar que alguém um dia as poderia
vir a querer compartilhar comigo com a mesma paixão de vida que eu tenho.
Não sou um narciso, muito menos um filosofo porque a minha ambição nunca foi escrever
demagogias, nem falar de utopias, mas sim de coragem, de vontade de viver, de sentir cada
inspiração a preencher me de vida mais uma vez...essa coragem que eu tenho, essa vontade
que eu assumo.
Ultrapasso as barreiras do real e consigo ver o mundo tal e qual ele seria se todos nós
dessemos um pequeno contributo..um pouco de nós, e deixassemos as nossas pretensões
individualistas de vida de lado em prol de um bem comum, que acaba sempre por ser o nosso,
afinal somos todos naufragos nesta vida.
Sinto me mal...por me sentir cada vez mais perto do arquétipo de pessoa que voçes são...
mal por ir pedir desculpa a alguém que não está nem nunca esteve isenta de culpas e
levar com o melhor que essas pessoas me podem dar..ironicamente aquelas que são tão
boazinhas para mim...mas não sabem escutar.
O fosso alarga...as distancias em breve serão insuperaveis...a agonia de ser sempre
confrontado com a vossa pretensão de mostrar que o meu caminho está errado..porque
são orgulhosos demais para admitir que tem medo,que o vosso sopro de vida já fugiu,
que já não sentem a esperança nas mãos de poder melhorar o que vos rodeia..de engolir
os ressentimentos..Eu não preciso de ninguém pra mostrar que o meu mundo está errado!
Fui eu que o construi..em noites de insónia com mágoas abafadas,e lágrimas amordaçadas.
As regras são as minhas...funcionam para mim..é só isso que eu quero..porque sei desde
a primeira vez que decidi rumar por um caminho que nem todos seguem..por ser o menos
trilhado...o mais inseguro..o que mais duvidas nos traz..o que nos confronta com os
nossos demónios interiores...que a minha fiel companheira seria a eterna solidão de
ver os poucos de quem gosto desperdiçar o pouco tempo que tem com caminhos que não
são os deles, e, de ainda por cima, servirem de obstáculos aos que pretendem seguir
a vóz do coração...daqueles que obstinadamente seguindo o seu caminho pretendem dar
um maior significado à sua vida...evitar os lugares comuns e desbravar o seu caminho
arrastando a sua frente ódios e traições, amores e paixões...porque meus senhores,
aquele que sempre rumou com a solidão das suas convicções as costas, sabe que não
há maior tristeza que acabar os dias com uma companhia que julgava não se ter...
a companhia da solidão...

Lágrimas...

Todos temos os nossos defeitos. Ninguém nos pode censusar por os Ter, seria ir contra o que nos define em parte como pessoas, individuais e não clones. Nunca gostei que se intrometessem no meu espaço privado, o meu próprio paraíso, onde nas horas de chuva dissolvente eu me escondo, evitando confrontos de mentalidade que a maior parte não está pronta para enfrentar. Isto para, na linguagem de reles cidadão ignorante me possa fazer perceber a todos quantos vós quiserem ler esta carta aberta à sociedade.
Ninguém, seja lá quem for, me vai proibir de Ter aquilo que é meu por direito, e não estou a falar de comida, dormida, etc., até porque se acham vocês que é um favor que estamos a fazer aos nossos filhos, então a vossa noção de sociedade está tão distorcida e ignorante como quando os nossos ancestrais julgavam ser eles o centro do Universo. Todos temos um lugar na ordem natural das coisas e não vai ser um sujeito orgulhoso e com a mania que todos são como ele, e consequentemente lhe querem tirar o lugar, que me vai martirizar com as suas tentativas vãs de estabelecer comunicação por meios primitivos, como forma de se mostrar capaz e presente.
Normalmente, numa relação, se algo falha, a culpa é sempre do outro, e nunca ninguém espera que o dito outro se digne a reconhecer que também tem culpas no caso. Aposto que é muito chato descobrir alguém assim. Até porque, tendo essa visão das coisas, é um passo em frente para ultrapassar o supostamente isento de culpas. É que ninguém discute sozinho, e é muito frustrante deixar alguém nessas condições.
Mas o pior de tudo meus amigos, é por amor à estabilidade, amordaçar certas palavras azedas, com bilhete expresso de saída e destino pré-definido, tipo míssil anti-parvoice. Tendo por cumulo a incomunicabilidade com os meus pares. Porra, ninguém percebe uma puta de uma palavra do que eu digo!! Tudo porque estas só vêm pedir-lhes que olhem mais além do horizonte, e questionem um pouco os seus dogmas e estereótipos quase eternos de imaculados que estão, porque nada, mas mesmo nada, é eterno.
Acho que com o passar dos anos, as pessoas vão deixando morrer a voz do seu coração, deixam-na a falar sozinha, e por fim de sonhar, de imaginar e inovar, de Ter iniciativa, acabando a vegetar, como os outros milhões de obreiros que por este planeta andam a cavar, sem sequer se questionarem do valor de tão vitalícia tarefa. É esta a grande diferença entre um homem e um Homem.
Não sou utópico, sou apenas diferente.
Só peço que me respeitem as minhas diferenças e vontades, e dar-vos-ei o dobro daquilo que trouxerem para a minha vida.
Se por não acreditarem no que vos diz o coração, ou por que para vós ele morreu, não sejam vocês egoístas ao ponto de não me deixarem esticar as asas e voar tal e qual Ícaro.
É que só o empenho da tentativa faz-nos mesmo sentir vivos.
A sinceridade é a rainha, e o sonho o rei deste reino de onde vos escrevo, e onde um dia todos vós que se intitulam adultos, tiveram a oportunidade de entrar, e realmente aprender a viver segundo as demandas da vossa razão, banhada em ouro de emoção.


Acredito na liberdade. Na liberdade de sonhar e voar até mais não poder. Na liberdade de desejar e esperar que um dia...sim, um dia isso acontecerá, como um milagre em revelação diante dos nossos incrédulos olhos, das nossas simples almas.
Acredito que a liberdade é ter poder, o poder de transformar outras pessoas com os nossos sonhos, preenche-las com o nosso entusiasmo, encher-lhes a vida e descobrir-nos a nós próprios nos braços de outro alguém. O poder de não ter, ou ter, e sim, poder escolher que musica ouvir, a quem escrever ou telefonar, rir ou chorar.
Lutar também faz parte da nossa liberdade. Lutar? Sim, lutar. Por alguém, por um ideal, por um sentimento, sem nunca o deixar morrer, parar ou partir para longe de ti. Defender a vida, não virar a cara à luta.
Ao derramar uma lágrima de dôr...um suspiro de amor, um sorriso sem côr que seja, acabamos por entrar e participar.
Acredito na liberdade, sempre acreditei, porque a Liberdade é uma lição repleta de indeléveis mistérios, surpresas e amor, porque no final tudo se resume a quem amamos, e eu amo.

eram um grupo barulhento e animado,q se encontrava dia apos dia,no mesmo café,a fumar os
mesmo cigarros,as mesmas bicas e bebidas,por entre as mesmas conversas e gargalhadas soltas
plenas de vontade. Era sempre assim nos intervalos ou quando as aulas acabavam.
Era um olhar solitario q os reobservava de soslaio,em escala cinza,sempre de passagem
com um esgar triste na expressao e um ar selvagem a brilhar.Era assim sempre q as aulas
terminavam ou havia um furo no horário.Dia apos dia.
Nunca conseguira perceber o pq de tanta alegria nas vozes.
Encontrava com facilidade o caminho ate ao pontao da praia,ate aos bancos de pedra do mirante
apesar da sua voz se perder no caminho ate a boca qdo lhe perguntavam alguma coisa ou
simplesmente lhe dirigiam a palavra.
So! era assim q sempre se vira no reflexo das janelas das casas terreas do bairro dos pescadores
dia apos dia,semana apos semana,mes apos mes.
O sentido da vida,a pressao dos dias,o tempo q se desgasta nas tuas lágrimas,os arco iris de
uma so cor q as atravessam.
A paz de se estar simplesmente por estar,por se amar o Sol,uivar à Lua e diluir as suas
magoas nas marés vivas de setembro q tanto o fascinavam.
Os monologos nocturnos com as estrelas, astros e magos.
As fadas, os mágicos feiticeiros,as princesas e os cavaleiros.
As cores q não via, os sorrisos e os amores q não qeria...
...as lagrimas q não vertia.

Há dias em q acordas com o peso dos pecados do mundo as costas...sufocado por uma sociedade,
ofuscado por uma serie de ignobilidades, atrocidades cor de rosa.
Por mais q tentes olhar para um lado positivo, so te salta a vista o negativo cinzento escuro
da rotina. Apetece-te gritar, ser cruel, transferir a tua insignificancia neste mundo e a tua
incapacidade de realmente mudares algo..
Les textos, livros repletos de sabedorias infindas, decorados a cores do mais formoso matiz..
debroados a amor..mas a tua alma continua negra..poluida por uma série de erros que tu não
cometeste, mas que pagaras sem saber o que compras..
Escolhes no fundo o que te querem dar a escolher..de ante mao envenenado com os caminhos que
querem que tu sigas...Desvanecendo na noite a tua lenda pessoal
Tudo o que te orienta na vida é no sentido de te apagar, de te tornar menos perigoso, de
esqueceres do que é ser originalmente sonhador..a esses xamam eles mtas vezes loucos, inconsequentes
marginais, fora da lei, colocam-nos injustamente de fora, esquecendo que a eles devem tudo o que
de alguma vez foi puro e pleno de bondade no seu dia...
Mas o homem é uma virose corrupta da natureza, que luta entre dentes para eliminar a ameaça..Nós.
Por uma ironia que se calhar até o Criador custa a perceber, os unicos seres capazes de sentir alem
do fisico, de transfigurar a realidade, desenvolveram a unica coisa que não era necessaria..
a ganancia competitica disfarçada de ambição, que, segundo sei, é uma bela desculpa para que os maiores
crimes passem impunes..crimes contra quem toma conta de nos, contra os que nada querem mais da vida
do que a sorte de a puderem viver..
Nestes dia sinto a pergunta a pairar no ar.."De que lado estas tu..?"
Defende a vida e nao a morte, surja ela de que forma for...
Não digo que não seja possivel atingir a felicidade, a seguir um caminho ja mtas vezes pisado..
sorrio e digo..que para provar que o meu caminho esta certo não preciso de provar que o de alguém
esta errado..mas depois de uma valente surfada..atentem no universo que brilha nos meus olhos
e a leveza do meu andar..e terao uma pequena amostra da recompensa dos que se arriscam a ser
diferentemente diferentes..
Acordem para o outro lado..soltem o vosso ser..voem com os ventos..soltem-se como o pensameto

Vagueias nas horas de solidão, por entre os oceanos calmos e os ventos selvagens...pulsas no tocar, no ser, no sentir, no acreditar.
Sentes o apelo das suaves mudanças das marés, o feitiço da lua...transformas-te, ali ficas nua de ideais, despedes-te do mundo e abraças a imensidão azul...
Livremente livre...escreves o teu destino a cada onda que invade a areia ritmadamente, numa dança hipnótica que se perde nos confins dos tempos imemoriais...
Olha, ali és tu, sereia da vida, ninfa do desejo,...escreves melodias no céus, com os dourados fios de cabelo, mostras o que de puro ainda tens, a alegria ingénua do sentir mágico, intensamente, profundamente...ris e choras, e gritas do universo da tua alma, como da primeira vez que te viste no mundo,....vives....
e não poderia ser de outra maneira.

“O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente
sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que
servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro”
(fala de Tuahir)

Já é tarde e a Lua subtil, vai-se exibindo como uma medalha no decote ousado da noite. Derivo sozinho por entre mares de palavras, lágrimas e sentimentos, órfão como uma onda, irmão das coisas sem nome.
Agarro com força o desprezo de tão sublime donzela, encarnando a versão terrena e palpável do amor com a força de Balzac, a pureza de Camilo e a tragédia de Shakespeare, espelhados no seu olhar.
Brado aos céus, perguntando em gritos surdos; cólera dolorosa esta que carrego no meu peito, que me mata aos poucos, e consome em fogo fátuo; porque são as minhas palavras desprovidas de forma e sentido, quando confrontadas com o seu o mundo, o mundo dela? Morro!! Morro todos os dias, por saber que a sua existência me resume ao nada, ao absoluto vazio...Nada, nem o vento me sopra como resposta, como outrora o fazia. Agora carrego dores, dores de mil mortes e caminho na areia do deserto árido e sem vida, noutros tempos floresta viçosa e verdejante, orgulho do nosso Criador, para definhar e morrer na sua sombra, na encosta mais escura do amor, aquela onde os desgraçados definham e morrem, para serem esquecidos...Terra de bravos, cemitério de indiferença.
Em sonhos por vezes, vejo seu rosto, e persigo seu vulto... sussurro sem forças o seu nome, mas a noite desvanece a sua imagem.
Acompanha-me solidão até à minha ultima morada, pois no sossego sou cego, e na confusão não vejo, além de seu olhar frio e distante, tão torturante quanto doce.
Queria ser, queria saber, mas desde a minha primeira palavra fui por ela condenado ao exílio...Falo outras línguas bem sei, palavras antigas e rebuscadas, que no entanto são como uma estrela ao pé de mil universos antigos, mas puras, sentidas e verdadeiras.
Falta-me coragem de encurtar a distancia, e procuro incessantemente um farol que me guie na sua direcção, um sinal de Deus, uma resposta... são preces sem retorno, desejos perdidos.
Desventura esta, que nem sua atenção consigo prender, o sufoco de querer e nem sequer existir para ser ouvido...mas eu existo, o meu olhar triste, existe, concerteza que ela já o tem visto, mas nunca aprofundado e conhecido.
Desconfio que sua alteza tenha esquecido que o sonho é o olho da vida, e talvez seja por isso que tem andado cega...
Princesa de infinitas dores, sufocos e tamanhos amores, faço-te corte de corpo e alma, enriqueço-te os dias com a luz distante do meu amor solarengo, esqueço-me de existir, perdi o meu precioso rir, o meu brilho de alma.
Espero à noventa e nove de cem dias debaixo da sua janela, graças a ela sou rei da miséria, velho, cansado e sujo. Jogado na lama, dormido à chuva...e ela nunca se dignou a sorrir sequer.
Devolve me o amor que te dediquei, desce da altura que te fiz subir, enfrenta-me, ou serei eu obrigado a fazê-lo? Ah!! A loucura possui-me mais um pouco a cada dia que te tornas mais humana Princesa. Como dois amor maldito...
Salva-me, liberta-me desta prisão, purifica-me nem que seja na morte, recebe-me em teu castelo ... ouve o que eu posso ter para contar Princesa, ouve as palavras a saírem de meus lábios fragilizados pela tristeza., vê como são reais, puros e crentes...
Afinal que terás tu a temer de um salpico de mar?

Numa lágrima lavam-se-te os olhos
E esvaem-se-te sofrimentos
Numa lágrima acaba-se-te um sonho
E começa um tormento

Numa lágrima fogem sorrisos, gritos e suspiros
Surdos e mudos da alma
Com uma lágrima exclamas em amargura
As silenciosas misericórdias que te salgam as lágrimas

Numa lágrima rasgam-se as tuas páginas
E acabam as tuas esperanças
Inicia-se o fim, assalta-te a tristeza
Termina uma pérfida paixão, numa lágrima

Com uma lágrima exorcizas os teus demónios
Esvazias a alma de sentimentos
Eternizas memórias, recordações, pensamentos
Fazes fé em melhores momentos

Tu e ela, uma simples lágrima, um virar de página...




Bernardo
18.02.00

Luto

Hoje a alvorada surgiu em tons lungrubes, soturnos, tristes por fim.
A morte instalou-se em festa, num arraial sádico e porco.
Hoje é o dia final, o dia em que eu visto luto pela primeira vez....
A chama que me quis devorar...
Um pai que perde um filho que sem saber já o tinha perdido, à muito, muito tempo atrás.
Só a noite sabe quem eu sou, só o mar me abre os braços para me embalar.
As estranhas visões que percorrem os meus sonhos, a dor que invade os meus olhos risonhos e insiste em ficar.
Mas a paz, essa palavra por mim tão almejada, só na solidão a encontro, no encontros fortuitos com a morte que com ela anda de mão dadas.
Quero muito...mas quero alguma coisa da vida, deixo-a surpreender-me, não me deixo desvanecer como sangue na água.
Há muito tempo que andava adormecido...ou pelo menos assim o queria. A virar as costas às tormentas, a fugir...
Mas algum dia eu tinha que acordar, algum dia eles deviam saber que me ia soltar...
Eu tenho as minhas culpas, que carrego como cristo carregou a cruz, mas como ele lutou contra tudo e todos, eu também tenho a minha fé, a minha esperança e o amor à vida, às lutas, às aventuras e desventuras.
Sou um vadio, devo-me comportar como tal. Devo rodar para onde me leva o vento e deixá-lo varrer os meu tormentos.
Enfim sou livre pensamento nos braços do vento leste...Vivo, mas estou vivo.


O meu segredo....

“Na praia a leste da ilha existe uma ilha, com um gigantesco templo, cheio de sinos”, disse a mulher.
O menino reparou que ela vestia roupas estranhas, e tinha um véu que lhe cobria os cabelos. Nunca a vira antes.
“Já viste este templo”, perguntou ela. “Vai lá e conta-me o que achas dele.”
Seduzido pela beleza da mulher, o menino foi até ao lugar indicado. Sentou-se na areia e olhou o horizonte, mas não viu nada além do que estava acostumado a ver: o céu azul e o oceano.
Decepcionado, caminhou até um povoado de pescadores vizinho, e perguntou sobre uma ilha com um templo.
“Ah, isso foi há muito tempo atrás, no tempo em que os meus bisavós moravam por aqui”, disse um velho pescador. “Houve um terremoto, e a ilha afundou no mar. Entretanto, embora já não possamos ver a ilha, ainda conseguimos escutar os sinos do seu templo, quando o mar os faz balançar lá no fundo.”
O menino voltou para a praia, e tentou escutar os sinos. Passou a tarde inteira ali, mas só conseguia ouvir o ruído das ondas e os gritos das gaivotas.
Quando a noite chegou os seus pais vieram buscá-lo. Na manhã seguinte, ele voltou a praia; não podia acreditar que uma bela mulher pudesse contar mentiras. Se algum dia ela voltasse, poderia dizer que não vira a ilha, mas escutara os sinos do templo, que o movimento da água fazia tocar.
Assim se passaram muitos meses; a mulher não voltou, e o garoto esqueceu-a; agora estava convencido de que precisava descobrir as riquezas e tesouros do templo submerso. Se escutasse os sinos, saberia a sua localização, e poderia resgatar o tesouro ali escondido.
Já não se interessava pela escola, nem pelo seu grupo de amigos. Transformou-se no gracejo preferido das outras crianças, que costumavam dizer: “ele já não é como nós. Prefere ficar a olhar o mar, porque tem medo de perder nos jogos”.
E todos riam, vendo o menino sentado a beira da praia.
Embora não conseguisse escutar os velhos sinos do templo, o menino ia aprendendo coisas diferentes. Começou a perceber que, de tanto ouvir o ruído das ondas, já não se deixava distrair por elas. Pouco tempo depois acostumou-se também aos gritos das gaivotas, ao zumbido das abelhas, ao vento batendo nas folhas das palmeiras.
Seis meses depois de sua primeira conversa com a mulher, o menino já era capaz de não se deixar distrair por nenhum barulho – mas tampouco escutava os sinos do templo afundado.
Outros pescadores vinham falar com ele, e insistiam: “nós ouvimos!”, diziam.
Mas o menino não conseguia.
Algum tempo depois, os pescadores mudaram de conversa: “estás muito preocupado com o barulho dos sinos lá em baixo; esquece isso e volta a brincar com os teus amigos. Talvez apenas os pescadores consigam escutá-los.”
Depois de quase um ano, o menino pensou: “talvez estes homens tenham razão. É melhor crescer, tornar-me pescador, e voltar todas as manhãs para esta praia, porque passei a gostar dela” e pensou também. “talvez isto tudo seja uma lenda, e – com o terremoto – os sinos se tenham quebrado e jamais tornem a tocar”.
Naquela tarde, resolveu ir para casa.
Aproximou-se do oceano, para se despedir. Olhou mais uma vez a natureza, e - como já não estava preocupado com os sinos – pôde sorrir com a beleza do canto das gaivotas, o barulho do mar, o vento batendo nas folhas das palmeiras. Escutou ao longe, a voz dos seus amigos brincando, e sentiu-se contente por saber que logo estaria de volta aos jogos de infância.
O menino estava contente, e – da maneira que só uma criança sabe fazer – agradeceu por estar vivo.
Tinha a certeza que não perdera o seu tempo, pois aprendera a contemplar e reverenciar a Natureza.
Então, porque escutava o mar, as gaivotas, o vento, as folhas das palmeiras, e as vozes dos seus amigos brincando, ouviu também o primeiro sino.
E outro.
E mais outro, até que todos os sinos do templo afundado tocaram, para sua alegria.
Anos depois – já um homem - ele voltou à aldeia a à praia da sua infância. Não pretendia resgatar nenhum tesouro do fundo do mar; talvez aquilo tudo fosse fruto da sua imaginação, e jamais tivesse escutado os sinos submersos numa tarde perdida da sua infância. Mesmo assim, resolveu passear um pouco, para ouvir o barulho do vento e o canto das gaivotas.
Qual não foi a sua surpresa ao ver, sentada na areia, a mulher que lhe falara da ilha com o seu templo.
“O que faz aqui?”, perguntou.
“Esperava-te”, respondeu ela.
Ele reparou que – embora muitos anos já se tivessem passado – a mulher conservava a mesma aparência; o véu que escondia seus cabelos não parecia desbotado pelo tempo.
Ela estendeu-lhe um caderno azul, com as folhas em branco.
“Escreve: um guerreiro da luz presta atenção aos olhos de uma criança. Porque elas sabem ver o mundo sem amargura. Quando ele deseja saber se uma pessoa ao seu lado é digna de confiança, procura ver como uma criança a olha.”
“O que é um guerreiro da luz?”
“Tu sabes”, respondeu ela, sorrindo. “É aquele que é capaz de entender o milagre da vida, lutar até ao final por algo em que acredita, e – então – escutar os sinos que o mar faz tocar no seu leito.”
Ele nunca se julgara um guerreiro da luz. A mulher pareceu adivinhar o seu pensamento: “todos são capazes disso. E ninguém se julga guerreiro da luz, embora todos o sejam”.
Ele olhou as páginas do caderno. A mulher sorriu de novo.
“Escreve sobre o guerreiro”, disse ela.
(...)
Já era noite quando ela acabou de falar. Os dois ficaram a olhar a lua que nascia.
“Muitas coisas do que me disse contradizem-se”, disse ele.
Ela levantou-se.
“Adeus”, disse. “Tu sabias que os sinos no fundo do mar não eram uma lenda; mas só foste capaz de escutá-los quando percebeste que o vento, as gaivotas, o barulho das folhas de palmeira, tudo aquilo era parte do badalar dos sinos.”
“Da mesma maneira, o guerreiro da luz sabe que tudo à sua volta - as suas vitórias, as suas derrotas, o seu entusiasmo e o seu desânimo – faz parte do seu Bom Combate. E saberá usar a estratégia certa, no momento em que precisar. Um guerreiro da luz não procura ser coerente; ele aprendeu a viver com as suas contradições.”
“Quem é a senhora?”, perguntou.
Mas a mulher já se afastava, caminhando sobre as ondas, em direcção à lua que nascia.


in Manual do Guerreiro da Luz
de Paulo Coelho

hj a noite por breves instantes vistes o meu desenho,
calado como um carvalho,romântico como uma pedra,triste como um navio,
inútil como uma rosa nas tuas mãos...

O mundo só é mundo Enquanto permite duas pernas para um passo
Dois punhos para um soco, duas bocas para um beijo
Dois olhos para uma imagem.

Não sei o que dizer,
À noite sonhei um verso
Que a caneta não quer escrever.

Teus olhos são bem mais do que imaginam.
Vermelhos, tristonhos atrás dos óculos e da poeira
Transformam o nada em instante.
E o instante, para sempre instante
(por mais antigo ou amarelo instante)
Anima-se para um monólogo urgente com a eternidade.

Os sonhos desabam, desabam em silêncio
Como pontes em abismos infinitos
Quase tão profundos quanto a memória indestrutível.

A primavera caminha devagar, em passos suaves, convidando o Sol para sua companhia. Sentindo as caricias quentes, que puxam pelas roupas mais frescas, os ouvidos pedem um som ritmado, alegre e colorido, e quem melhor que o senhor Robert Nasta Marley, mais conhecido como, Bob Marley, para nos enviar nos ritmos das ilhas quentes e tropicais?
Aproveitando a proximidade do aniversário do seu falecimento, surge o lançamento do album Legend, uma reedição especial, com dois cd´s. O primeiro com as melhores musicas do senhor Bob Marley and The Wailers, que ainda marcam o roots reggae actual, e o segundo com remisturas, de nomes sonantes do panorama actual deste género musical.
Exitos como “No woman no cry”, “Could you be loved”, são certos de levantar a moral a qualquer um e de nos elevar a outros estados de consciencia, libertando nos das estreitas liberdades do dia a dia.
Sem margem para duvida uma aquisição obrigatória para todos aqueles que já conhecem, e para quem se propõe a encurtar as distancias com este
Marley, sem duvida o maior artista jamaicano de todos os tempos, falecido em miami em 1981 de cancro da pele, deixou para trás, mais de duas decadas de musica interventiva e sempre actual, plena de actualidade. Nas palavras de alguém, “..um verdadeiro profeta, na linguagem universal, a musica.”
Good music makes your more intelligent..pois bem disfrutem.


"Faiscas - jornal do ISCSS - Sul Maio 2003

à noite o silêncio confunde
ganha corpo e vontade própria,alma,cores e perpétuo movimento
mexendo se nas trevas assalta sorrateiro a solidão
e afastando-se por fim,manso,leva-nos com ele num repente,
lá fora onde a Lua chora desconsolada,
por amores antigos, deslocados na sua história.
Promessas quebradas em vasos terrenos,
eternas seriam,aos dourados laivos pereciam.
Restas tu, meu coração quente, boca trémula
lábios ardentes, sequiosos de loucura,
gretados de ternura.
Gravados a delicados cinzeis,dores e lágrimas
salvos da negritude solitária, piedosa absolvição
por um céu humildemente tristonho,
estrela cadente, olhar, profecia ou sonho.
Revejo-te nestes verdes ávidos de vida,
sequiosos da grande aventura mágica,
entre cavaleiros e princesas, magos e corcéis
em arrepios ofegantes, respiração sofrega
nas canções do Suão e no emaranhado laranja,
que separa o mundo do sonho, o dia da noite
...e os homens das crianças.


sinto falta de tudo aquilo que nunca tive,

quis beijar-te a pele nua.
como Sol que deseja a Lua
num abraço todo o Oceano
fechar os olhos sem tempo
sem quando,sem lamento
morna tristeza melancólica
esta maresia de vida perdida
do marinheiro bucólico

“Como tudo começou...”

“Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos e qualidades do Homem, algures na Terra.
Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre tão louca, resolveu propor:
- Vamos jogar às escondidas?
A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE sem poder conter-se perguntou:
- Escondidas? Como é isso?
- É um jogo – explicou a LOUCURA – em que eu fecho os olhos e começo a contar de um em um até um milhão enquanto voçês se escondem, e, quando eu terminar de contar, o primeiro de voçês que eu encontrar, ocupará o meu lugar para continuar o jogo.
O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA. A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou por convencer a DUVIDA e até a APATIA, que nunca se interessara por nada.
Mas nem todos quiseram participar. A VERDADE preferiu não se esconder.
“- Para quê me esconder se no final todos acabam por me encontrar?” – pensou.
A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto ( no fundo o que a incomodava era que a ideia não tivesse sido dela ) e a COBARDIA preferiu não se arriscar.
- Um, dois, três, quatro,...- começou a contar a loucura.
A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que como sempre caiu atrás da primeira pedra no caminho. A FÉ subiu ao céu e a INVEJA escondeu-se atrás da sombra do TRIUNFO, que com o seu próprio esforço tinha conseguido subir à copa da árvore mais alta. A GENEROSIDADE quase não conseguia esconder-se, pois cada local que encontrava parecia-lhe maravilhoso para alguns dos seus amigos. Se era um lago cristalino, era perfeito para a BELEZA. Se era a copa de uma árvore era perfeito para a TIMIDEZ. Se era o voo de uma borboleta, seria o melhor para a VOLUPIA. Se era uma rajada de vento era magnifico para a LIBERDADE. E assim acabou escondendo-se num raio de Sol. O EGOISMO ao contrário, encontrou um sítio muito bom para ele, desde o início. Ventilado, cómodo, mas só para ele. A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade escondeu-se no arco-íris) e a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vulcões.
O ESQUECIMENTO não me recordo onde se escondeu, mas isso também não é o mais importante.
Quando a LOUCURA estava lá pelo novecentos e noventa e nove mil novecentos e noventa e nove o AMOR ainda não havia encontrado um local para se esconder, pois já estavam todos ocupados, até que finalmente encontrou um roseiral, e carinhosamente decidiu esconder-se entre as suas flores.
- Um milhão!!! – terminou de contar a LOUCURA e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos da pedra em que havia tropeçado. Depois escutou a FÉ discutindo com Deus, no céu, sobre os destinos do Homem. Sentiu vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões.
Num descuido encontrou a INVEJA e claro, pôde deduzir onde se escondera o TRIUNFO. O EGOISMO nem teve que procurar: ele sozinho saiu disparado do seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.
De tanto procurar sentiu um tremenda sede e ao aproximar-se do lago descobriu a BELEZA. A DÚVIDA foi ainda mais fácil, pois encontrou-a sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado se haveria de esconder.
E assim foi encontrando todos. O TALENTO entre a erva fresca, a ANGUSTIA numa cor escura, a MENTIRA atrás do arco-íris (mentira estava no fundo do oceano!) e até o esquecimento, esquecido que estava a jogar às escondidas.
A dada altura só o AMOR faltava encontrar. A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, em baixo de cada rocha do planeta e nos cumes das montanhas.
Quando estava prestes a dar-se por vencida, encontrou um roseiral.
Levada no seu ímpeto natural, de tão frustrada que estava, pegou numa foice e começou a roda-la no meio do roseiral com violência. Começaram a voar ramos, folhas e pétalas...Quando, de súbito, se ouve um grito doloroso.
Os espinhos haviam ferido o AMOR nos olhos.
A LOUCURA não sabia o que podia fazer para se desculpar. Chorou, rezou, implorou, mas continuou a sentir uma tremenda culpa e arrependimento no seu âmago.
Lutando contra isso, a LOUCURA uniu-se ao AMOR e tornou-se os seus olhos o seu guia.
Desde então, desde que neste dia se jogou pela primeira vez às escondidas na Terra, e o AMOR é cego e a loucura sempre o acompanha.
E foi assim que tudo começou...




Praia das Andorinhas, 13 Fevereiro 2001

um cantinho...

Era o meu primeiro dia de escola...numa nova escola, numa cidade que não era a minha,
num corpo que ja não era o meu, seguindo regras que de certeza também não eram.
Era bem cedo, e o dia acordara macilentamente cinzento, humido e desconfortavel.
Invarialvelmente sentia aquele caminhar pesado e lento da solidão quando caminhava por
entre as poças de água que iam surgindo no caminho, desafiando a minha destreza infantil.
Não gostava daquela cidade, mas também, e para ter de vos ser sincero, acho que nunca
gostara de uma cidade, pelo menos tanto como os amplos espaços, que correm até a vista
se cansar.
Aproximava-me sem grande vontade, sem grande entusiasmo.
À medida que a distancia até à escola iam dimuindo, como areia escoando por entre os meus
dedos, a ansiedade ia tomando de turpor o meu corpo...e os meus olhos, fixavam cada vez
mais o chão, que ia namorando com as biqueiras do meus sapatos, comprandos à vontade do
Sr. meu pai.
Por fim cheguei. Ali estava diante da escadaria principal..
Subi degrau a degrau, como um enforcado caminha para a sua condenação..tropecei e os meus
óculos cairam ao chão..inevitavelmente ouvi dois ou tres comentarios jocosos, que nem
ousei enfrentar...e que só serviram para apressar o meu ritmo.
Entrei por entre as largas portas envidraçadas, que deixavam passar a fusca luz do dia
que imitara a minha preguiça e se recusava a nascer.
Os corredores compridos, decorados toscamente por cacifos dos seus dois lados, estavam
nesta altura, tranquilamente vazios.
Que visão estranha aquela, que ainda hoje se encontra queimada na minha retina.
Aproveitei para procurar a sala onde deveria ter a minha primeira aula.
Dei por mim a subir uma escadaria, separada da rua por uma janela que a desnudava para a
rua na sua totalidade. PErcebi que não devia ser das zonas mais concorridas do estabele-
cimento de ensino do estado, mas segui até ao topo sem hesitar uma vez que fosse, o que,
vos digo de toda a certeza, era muito raro acontecer.
"Biblioteca", dizia um letreiro carcomido pelo tempo, e vestido de pó. Aquela hora nem
uma alma penada se aventurava por ali, até porque essa conversa de eternidade deve ter
muito por onde nos ocupar ate darmos por nós a matar saudades da terrivel vida que deixamos
nas páginas bafientas de um livro de biblioteca de escola.
Do lado oposto a entrada para a Biblioteca, havia um recanto na parede, onde morava agora
um timido raio de Sol, que descobriu o acolhedor refugio.
Caminhei na sua direcção até sentir o conforto morno do seu calor, reflectido na parede
e por ali me encostei, a ouvir as suas lendas, as suas fábulas, as suas aventuras.
Deslizo e sento-me no chão de olhos fechados, a imaginar quantas pessoas estariam naquele
preciso momento a fazer o mesmo que eu, ou até quantas estariam vestidas de maneira igual
e dessas todas que estivessem a fazer o mesmo que eu e vestidas de maneira igual, quais
as que seriam confundidas comigo na rua, ou até pelo lunático Sr. meu pai que só conhecia
de vista.
O toque de entrada soou, mas eu fingi não o ouvir, nada me prendia aquele lugar...parti a
viajar...
Muitas pernas por ali passaram..e algumas até se detiveram de pasmo...mas mais uma vez não
lhe prestei atençao porque não passavam de sombras no meu sonhar.
As horas foram passando..e de tudo eu via o que queria..as formas dominava-as eu como se
de simples magia.
Eram asas as que criei naquele tempo que por ali fiquei, simplesmente porque desejei.
Assim fui crescendo e as artes de voar sem em nada tocar, simplesmente pairar por entre
o dia,os tempos quotidianos..
Corria solta a minha imaginação, qual nascente de montanha, qual oceano aberto.
O toque do final do dia soava, puxando me donde quer que eu estivesse, de novo ao cinzento
real.
Levantei-me, lentamente, pois a pressa de chegar a casa também nunca era muita..."ninguem
gosta de ser chamado mais que uma vez por um nome que não é o seu..e de certeza que aquelas
quatro paredes escuras, abrigo de uma familia de neandertais - a minha - são tudo menos
um lar" pensei para os meus botões...e um sorriso mais leve que o meu pesar, escapou-se
sem o poder conter.
Levantei a face e arrebitei os meus grandes olhos verdes para me certificar de que ninguem
me vira num momento tao intimo e pessoal.
Mas os dias têm os seus momentos mágicos, e era chegada a altura da magia se soltar naquele
dia...quando o Sol beijou a Lua na testa, enquanto sumia na linha horizontal, que sempre foi o
maior desafio que a minha imaginação enfrentou.
Não senti medo...uma certa ansiedade talvez, um tremer leve das mãos e um grito mudo das pernas
que queriam ceder, apossaram-se de mim de vez.
Ali estava eu, cara a cara com um olhar tão profundo, tão profundo...que me mostrou num segundo
toda a eternidade...e tudo o que mais havera de vir. O meu peito galopava..o meu coraçao queria
saltar pela minha boca...a respiraçao tornou se pesada...e o ar sufocante.
As palavras? Onde estavam elas?
Eu soube entao, que o meu tempo havia chegado...o tempo em que as horas não fazem sentido, e o
mundo ganha cores que nunca existiram antes...o tempo em que só a Lua nos compreende e guia,
e as estrelas brilham até demais, afugentado o sono..que nunca mais sera o mesmo...o tempo
em que o sonho e o real se misturam num entrelaçado de sensações...o tempo em que as palavras
deixam de fazer sentido e nos atraiçoam, e os gestos nos fazem sentir tolos, desajeitados.
O tempo em que até o mais cobarde se torna heroi, e o mais adulto se torna criança..havia chegado
e eu soube naquele instante que o que eu pensara ser meu nunca o fora...era agora teu.

...nunca se sabe quando estamos a viver um sonho.

Running out of ways to run,
I cant see I cant be,
over and over under my skin,
in my shell i wait and bleed*

A tarde surgira, soturna e melancólica, com a lentidão da solidão escondida no seu mais profundo ser.
As ruas, ainda molhadas da chuva miudinha, encontravam-se com um ar de abandono sombrio e invulgarmente frias.
As poucas almas circulantes, fitas no chão e de rumos fixos para outra dimensão.
Um par chamou-me a atenção. Embrulhados debaixo de um longo sobretudo de veludo preto, nas suas auras separados, vagueavam a compasso alternado nas calçadas húmidas, sem saberem muito bem para onde.
Um velho violinista, tocava ancestrais melodias celtas ao pé da velha ponte romana de pedra, nestes dias, enfeitada de luxuriantes heras, enroladas em seu redor.
Continuaram timidamente, sem tão pouco levantar os olhos ou esboçar uma reacção.
A escuridão impôs-se ao dia, e gradas gotas de água gelada jorraram dos céus completamente negros.
Um abrigo. Uma casa. Uma porta entreaberta. Do seu interior voavam odores doces, suaves e coloridos.
Adensaram caminho por meio de corredores empoeirados e cobertos de teias de aranha, pisando soalhos confidentes de histórias passadas, nem todas elas felizes.
Os pensamentos seriam poucos nas mentes de cada um, à medida que avançavam na estreita escadaria, na direcção da luz, calmamente.
O ar no topo era leve, límpido, quase primaveril. Ouviam-se gritos e risos simultâneos, em expansões múltiplas de alegria.
Acercaram-se de uma varanda que sorria para um jardim pequeno e humilde de tamanho, mas de infinita beleza florida.
Dois vultos corriam em torno de um tenro fontanário, como crianças, para se encontrarem em ternos abraços no outro lado.
Estranhamente, uma luminosidade preguiçosa e morna, pairava em paletas de cores no ambiente.
A calma, a paz e o calor da serenidade.
Os dois vultos desapareceram de súbito nos braços um do outro, como se de um abrigo se tratasse.
A curiosidade empurrou-os a descer para perto do fontanário azul turquesa, que continuamente contava fábulas de príncipes e princesas juntos para toda a eternidade na volúpia platónica do amor.
Aí permaneceram sentados e isolados, ouvindo os sussurros secretos de pássaros enamorados esvoaçando em ousadas coreografias.
Passeando de mãos dadas, surge o misterioso par de jovens amantes, envoltos na penumbra que protege os de coração puro, avançando para eles sorrindo de um modo estranhamente familiar.
Sentados, entreolharam-se de espanto nos olhos acelerados, para de novo procurar o encontro com tão intrigante par.
Haviam desaparecido.
Não foram precisos mais do que alguns instantes, para se aperceberem que os familiares sorrisos eram senão os seus.
Sorriram e abraçaram-se, desaparecendo agora eles, caminhando unidos pelos lábios na penumbra.
No exterior a chuva parara, e pequenos arco íris reflectiam-se nos pequenos charcos no chão. O sol brilhou, e continuou a brilhar doravante, nem que fosse apenas no interior de peitos tão inflamados.



I´m in love with the world
Through the eyes of a girl

"olha me nos olhos, despe o teu passado e segura o teu futuro, embrulhado em sal e lua.. esculpe o teu futuro sem olhar para trás, rumo ao horizonte és tu qem encontrarás"

"a mais linda palavra de amor foi dita num olhar"

""Eu prefiro ser uma metarmorfose ambulante, do que ter aquela velha opnião formada sobre tudo"

"loucos,são os loucos que nos chamam loucos mas que não conseguem atingir a nossa loucura"