Por Mares Nunca Dantes Navegados
Quando era mais novo, tinha o feitio intrépido de aventureiro de banda desenhada. Atitude de Corto Maltese, personalidade de Errol Flynn.
Sonhava cortar os Oceanos, e tocar os confins da Terra. Enriquecer com tanta paisagem bonita, tons de pele diferentes e costumes distintos.
Tornei-me navegador depois de uma apurada, dolorosa e conflituosa história com o meu Amor Raiz.
O Amor Raiz feriu-me, tal como o calor do Sol no seu pico castiga os mais incautos no deserto, apesar das fantásticas cores.
Roguei mil pragas e vagueei pelos sete cantos do mundo, conhecido e desconhecido.
Em todos eles procurei A Resposta. Em todos eles procurei O Sinal e A Palavra.
Cansado de não satisfazer a minha sede, mudei de estratégia. A partir de então, seria o Vento que me guiaria. Que a responsabilidade do meu destino ficasse encarregue dos caprichos do Universo.
E o vento soprou. E depois rodou. Deixei-me ir como de costume.
Aportei de volta a uma praia suspeitamente conhecida. Era-me vagamente familiar.
Mal pisei a areia encontrei escrito em pedras sobrepostas A Palavra e O Sinal.
E a resposta estendia-se perante mim, saída de uma cabana de madeira, cabelo ao vento esvoaçante. O Amor Raiz.
Irónico, constatar que gastei anos de vida numa demanda, pela satisfação de perguntas e dúvidas tão enterradas em mim, quando afinal, a resposta sempre esteve tão ao meu alcance.
E para meu infortunio, não foi ao fim da terceira viagem que percebi que afinal a nossa busca não era senão interior. Foi ao fim de muitas.
No entanto, que ganhe em intensidade de dias revelados o que outros tiveram em quantidade, nos dias dos antigos.
E tu, se quiseres ter a certeza por me achares suspeito que estou a falar verdade, dá a terceira viagem ao mundo e constatarás o que relatei.