Desajeitado com o mundo, desumano na humanidade. Despretensiosos são os seus gestos, e delicadas as suas palavras.Ninguém o vê passar com o seu saco plástico preto às costas, carregando mais do que todos os seus pertences, toda a sua história.Contudo nem uma alma ousa penetrar por entre o cabelo desgrenhado e arbóreo, denso, seco, e encarar os seus grandes olhos secos estrelados, pedacinhos de céu colados no seu lugar.Ele não existe, todos o vêem, mas como coisa em que ninguém acredita não existe, ele fica-se naquele espaço em que somos nada e tudo.Parco, poupa nas palavras, porque o que não existe desloca apenas e somente o ar, como respiração da terra, arfar do mar. Mas guarda bem as suas riquezas, naqueles abismos longe das tormentas da superficie. E onde todos julgam existir monstros e criaturas medonhas, existem cores, mundos, caminhos e desencaminhos e paz.Os seus pés trazem terra de todos os cantos do mundo agarrada, e os cinco continentes existem por entre os seus dedos.Não há banco ou caixa forte no mundo capaz de dar guarda às riquezas que possui.Tem tanto de doce como de amargo, mas o seu sabor é indistinguivel e puro como ar da montanha.Da electricidade não faz uso, mas a todo o lado em que se encoste, ilumina-o num estilo supernova muito próprio.Move-se, desloca-se em sussurros e silêncios, ou gemidos, duas faces moeda da dôr e prazer.Grita também, mas como em tudo o resto, ninguém faz, fez ou fará caso.Ele tem nome.- Um nome esquecido, o meu - diz ele.Não se sabe quem o criou ou o que é que o originou, mas é provavel que até alguns já se tenham cruzado com ele uma vez, muito raramente outras.Há-de haver ainda quem o venha a conhecer, com sorte.O seu nome esquecido é A M O R.Ele vem, veio e virá de todo o lado, para todo lado, e assim continuará... sempre sem ser notado.É assim, sempre foi e Deus queira que sempre será.bernardo a.16.09.04