Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

terça-feira, maio 12, 2009

12 de Maio

Um raio cai do céu, com tom castigador.
É o aviso dos guias, um sinal orientador.
Pouco ou nada podemos fazer, pois o rumo já por nós foi traçado, sem tão pouco o sabermos.
Quando se perde um órgão, os outros ficam mais fortes, na biologica reacção.
No que concerne aos afectos, suponho que aconteça de igual modo.
Quando um coração deixa de sentir, tudo o resto fica mais perto do real.
Não que isso nos aumente a capacidade de sentir. Não. Essa estará perdida para sempre.
Mas apesar do sorrir parecer natural, na sombra do sucesso, aos olhos da anónima inveja, a bala continua alojada no
cérebro.
No fundo só queremos voltar a calçar os sapatos de quem já fomos.
Tarde, é tarde. Os sapatos já não nos servem e diz-se por ai, que não parece que se consiga voltar.
As lágrimas vertem por dentro. É esse o maior rio do Atlas. É subterraneo, é interior. E é tão nosso que lhe podemos
chamar de rio vermelho.
Ainda que as mãos se cruzem e o ritmo cardíaco aumente, a torrente continua.
E é gelada, vazia e sem vida.
Deixar de respirar e apenas aspirar o ar.
O poeta não desapareceu, apenas foi e voltou do inferno.
Há viagens que não ocorrem sem deixar recordações. Delicioso e complicado este pensar.
Abstrato, intricado e suicida - o suficiente para ser interessante.
Numa vida sem objecto afectivo, o que será pior? Perde-lo e sabe-lo caminhante pela pavimentada estrada da ausência e
indiferença, ou perde-lo em remoinhos e marés como viuvas que viram os companheiros lobos-do-mar morrer na praia,
tecendo redes que nunca mais vão voltar a ser cativas do mar?
Ainda consigo jogar o dedo aos números, e apontar o dia em que me perdi.
Naquele instante em que o silêncio encerrou o quarto, e eu não chorei. Mas é desde então que venho chorando.
O momento em que perdi o orgulho em ser e virei sombra do tentando.
O dia é hoje, o meu nome foi trocado, o passado virou presente.
No somatório matemático de todos os papeis, rótulos das castas que vindimam o vinho sem cor nem identidade, não
há fio de meada, inicio ou conclusao.
Maldição esta dádiva de clarivisão ou da antevidência.
Saindo por uma porta, entrando noutra, sei certamente que ontem não me conhecia,e hoje não me reconheço...e no amanhã
sem iniciais e sem terminais, caminho, peregrino e velejo, continuo sem saber quem sou.