Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

sábado, dezembro 03, 2016

"As Bruxas de Aljezur e a Maldição do Vidigal"


Em 1929, um ritual de feitiçaria terminava com a morte de uma família de camponeses de Aljezur. O baile do Vidigal durou três dias, acabou em tragédia e nunca foi esquecido no Barlavento Algarvio. Há meses, foram encontrados os relatórios do município e da polícia a explicar os acontecimentos. História de uma manhã danada, que o povo transformou em lenda.

Escondida debaixo da cama, Custódia Tomé viu o pai matar a mãe à machadada numa manhã da primavera de 1929. A criança tinha então 4 anos, e demorou mais de meio século a contar o que tinha acontecido nesse dia no Monte Velho, uma fazenda isolada junto ao lugar do Vidigal, no interior do concelho de Aljezur. «Um dia, antes de morrer, a minha mãe contou‑me tudo», diz agora a filha, Manuela Fragoso, 62 anos. «Eu já tinha ouvido histórias sobre os meus avós, mas nada como o que ela me descreveu. Não posso saber quanto disto é real, mas sei que ela acreditava em tudo o que dizia. A única coisa certa é que começou tudo no baile do Vidigal. E acabou em tragédia.»

O Vidigal era uma comunidade isolada a sete quilómetros da vila algarvia, hoje um ermo desabitado e, segundo os locais, amaldiçoado para sempre. Em 1929, era palco de cerimoniais de bruxaria frequentes, a que o povo chamava bailes. «Quem entrava já não saía», dizem os antigos.

«Eram bailes sem música, mas onde toda a gente dançava nua dia e noite, sob o efeito de uma bebida alucinogénica», conta José António, o Cacetada, 78 anos.

Foi o pai, que na altura tinha 18 anos e trabalhava à jorna no Monte do Vidigal, que lhe contou a história. «Estava lá sempre uma bruxa de Bensafrim [aldeia de Lagos] a comandar as operações e à noite era uma barulheira de gente a gritar completamente histérica. Conta‑se que uma vez entrou dentro da casa uma gata faminta e lhe amputaram as quatro patas convencidos de que era um espírito maligno. Nestes eventos, as pessoas ficavam possuídas pelo demónio.»

No início deste ano, foi encontrado no sótão dos antigos Paços do Concelho um conjunto de papéis que ajudam a esclarecer a lenda. Debaixo de materiais de escritório, jaziam os arquivos da correspondência que a câmara de Aljezur tinha trocado com o Governo Civil de Faro e o Ministério do Interior, muitos deles marcados de confidenciais. .

A história começa três semanas antes da tragédia. A 22 de abril de 1929, o autarca Basílio Nobre Marreiros enviou uma carta ao governador civil de Faro a pedir reforço policial para combater atos de feitiçaria no município: «Fui informado que em um monte desta freguesia se passaram atos de bruxaria. Dirigi‑me ao local e fui encontrar cinco criaturas, dando sinais de idiotice e mostras de fome, que fiz conduzir para esta vila. No dia seguinte, dirigi‑me a outro monte onde tive de deter mais oito pessoas, entre elas a histérica que sobre todos exercia perniciosa influência. Era uma mulher de virtude [nome dado à época a feiticeiras e curandeiras] de Bensafrim, que de há muito vem exercendo passiva influência sobre os nossos habitantes, através de rituais em que se usa o Livro de São Cipriano, o que cria graves animosidades entre pessoas da mesma família e vizinhos.» O relatório aponta outras cinco bruxas e um feiticeiro de Alte (Loulé) que usavam recorrentemente a obra. «Peço que me seja concedida autorização para apreender todos os livros no concelho, assim como julgo conveniente que se faça o mesmo em toda a república.»

Entre os cinco primeiros detidos estavam Luís Tomé, ou Luís Penico, a sua mulher, Adriana Marreiros, e a sogra, Maria Marreiros. Adriana tinha acabado de engravidar, o ritual serviu muito provavelmente para proteger a criança que carregava no ventre. Foram levados para Aljezur e, após dois dias em isolamento, os três haveriam de ser soltos e regressar ao Monte Velho, onde moravam. Semanas depois, Luís seria convocado para nova cerimónia, onde participaria o seu lado da família. Aconteceu no Monte do Porto da Silva, casa materna, de 15 a 17 de maio. Na manhã de 18, acreditando que Adriana estava possuída pelo diabo, assassinou‑a, grávida de quatro meses, à machadada. Quando a sogra correu em socorro da filha, o genro espancou‑a com um pau, até lhe tirar a vida. O último baile do Vidigal acabou em mortandade.

Deitada debaixo da cama, Custódia – a filha única do casal – assistiu a tudo. Depois o pai pediu‑lhe que saísse do esconderijo, prometendo não lhe tocar.

«O que a minha mãe contava», diz Manuela, «é que o pai encheu um copo com o sangue das duas mulheres e, com um dedo, lhe desenhou as cinco chagas de Cristo no peito, dizendo que agora estava protegida. E a seguir bebeu o cálice inteiro. Depois é que vieram as autoridades detê-lo.»

Desta parte da história não há qualquer relatório, apenas o relato da sobrevivente. Mas há alguns factos provados. O sogro do Penico vira tudo mas conseguira escapar‑se, fugindo para casa de um vizinho e chamando a guarda. Entretanto, o assassino levava a filha a casa dos padrinhos, Rosendo e Catarina Portela. «Pediu‑lhes que tomassem conta da pequena e sentou‑se na eira, à espera da polícia», lê-se num telegrama enviado pelo administrador do concelho ao governador civil.

A notícia espalhou‑se pelo município como a peste. No dia 20 de maio, a pedido do autarca de Aljezur, viajou de Lisboa o agente Miguens, da Polícia de Investigação Criminal, a antecessora da Judiciária. Também por isso, o caso mereceu cobertura da imprensa. Na edição de 28 de maio do semanário A Voz, um artigo chamado «As Bruxas de Aljezur» dava conta do homicídio e clamava pelo castigo dos feiticeiros que operavam no concelho: «É grave, muito grave, o que estas mulheres de virtude fazem no concelho de Aljezur. Para que não tenhamos de assistir amanhã a façanhas ainda mais funestas, as autoridades não deixarão certamente, em nome do decoro público, passar impunes estes crimes sociais. São perpetrados por meia dúzia de gente que diz ter poderes sobrenaturais, para enganar os papalvos.»

Miguens deu ordem de prisão a Penico e transferiu‑o para a cadeia de Lagos, onde, uma semana depois, o assassino confesso da mulher e da sogra se enforcaria com os lençóis. O auto refere ainda que a prática de bruxaria era frequente naquela região e reforçava a ideia de que era necessário apreender todos os Livros de São Cipriano à venda no concelho, o que viria de facto a acontecer. A 22 de junho, o agente da Polícia conseguia identificar a bruxa que tinha presidido ao fatídico baile do Vidigal. «Trata‑se de uma Maria Inácia Costa, residente em Bensafrim, concelho de Lagos, que há anos exerce o mister de “mulher de virtude”. É uma criatura perigosíssima, a quem o Luís Tomé, conhecido como Luís Penico, consultou várias vezes. Foi ela que o aconselhou a reunir toda a família, alegando que a mãe deixara de cumprir uma promessa e agora era necessário desfazer o enguiço.»

Aos poucos, ia‑se fazendo luz sobre o que se passara. Ao Monte do Porto da Silva tinha acorrido toda a família Tomé, mais alguns vizinhos que se juntaram aos rituais daqueles três dias de cerimónia.

«Tinham tomado um líquido qualquer e, após a ingestão, sentiram todos uma violentíssima impressão no cérebro», lê-se no relatório. «Não querem os sobreviventes dos horríveis acontecimentos declarar quem o preparou, com o receio de que a bruxa possa prejudicá‑los com sortilégios. Mas pela confissão de Luís Tomé sabemos ter sido Maria Inácia a preparar a seiva.» Sobre a constituição química, nem uma palavra. «Mas o meu pai sempre disse que tinham usado só limão, veneno para as formigas que atacavam os trigais», diz agora José António, padeiro da vila, o tal que era filho do rapaz que trabalhava no Vidigal. «Era um pó vermelho, comprava‑se na farmácia por 25 tostões e misturava‑se com vinagre.»

A casa onde o ritual aconteceu ainda existe, apesar de há muito ter sido remodelada. Fica na frente sul do vale do Vidigal e mal se dá por ela, escondida no meio do arvoredo. Maria Nunes, a atual proprietária, avança informações sobre o monte antigo, e o lugar preciso onde a bebida teria sido ingerida. «Há esta parte da casa que é de taipa, tinha a cozinha ao fundo e um quarto anexo. O que aconteceu só pode ter acontecido aqui», e aponta para o chão diante dos seus pés, uma assoalhada larga onde caberiam dez pessoas sentadas, senão mais. «O que sempre ouvi dizer foi que espalharam o trigo no chão e andaram três dias aos pulos, sem comer, e que acreditavam que estavam a ascender aos céus.» O habitante de um monte vizinho, Manuel Vicente, juntar‑se‑ia à família Tomé – e acabaria por ficar louco. Segundo vários relatos da população, impossíveis de verificar, houve vários habitantes daqueles montes que perderam a vida em situações bizarras. Sobre o Vidigal, começou a dizer o povo, tinha‑se abatido uma maldição.

O caso não terminou com a morte de Luís Penico, e ainda muita água rolou debaixo da ponte. A 22 de junho de 1929, Basílio Marreiros, o autarca, envia um telegrama ao Manicómio Bombarda, em Lisboa, a pedir o internamento de Manuel, o irmão do homicida, que também tinha estado no baile: «Absolutíssima necessidade internato imediato. Vítima bruxedos. Loucura furiosa. Influência perigosa. Rogo ida urgente referido louco.» O pedido é aceite de imediato e, um ano e meio depois, a 16 de dezembro, «o alienado» é transferido para o Manicómio Conde de Ferreira, no Porto, onde acaba por morrer. Augusta, a irmã mais nova, também é internada no Conde de Ferreira no final desse ano, mas não permanece mais de uns meses. O último relatório sobre o assunto, de 1930, esclarece que a loucura não abrandava e se manifestava «por atos de malvadez, já por mais de uma vez tentou assassinar os filhos, com quem vive». Muita gente lembra ainda hoje a figura da mulher quando saiu do hospital, vagueando pelas ruas, sem dizer coisa com coisa. Ficou louca para sempre.

Muita gente lembra‑se de Maria Inácia do Carmo, a Ti Maria Inácia Espírita, era assim que o povo a conhecia. «Íamos dar uma volta grande só para não vermos a bruxa. Toda a gente tinha um medo dela que se pelava.»

Francisca Norte e o seu irmão Adelino estão a almoçar junto à casa onde cresceram – e recordam a vida na aldeia em 1929. «Não havia estrada, nem água, nem luz. Ler quase ninguém sabia. A bruxa lia, por isso dizia‑se que era uma mulher de virtude.» Viúva, pobre, com três filhos para alimentar, arranjava sustento em mezinhas e crendices. «Aquilo era uma família que estava sempre suja, ela costumava usar saias compridas e avental, os cabelos despenteados.» De vez em quando, deixava a canalha entregue a si e desaparecia de carroça, semanas inteiras. Aljezur ficava a 23 quilómetros mas, para lá chegar pelos caminhos de lama, demorava‑se um dia inteiro. «Deve ter sido numa dessas viagens que aconteceu tudo.»

No início de 1930, uma delegação da freguesia de Bensafrim visitou a Câmara de Aljezur e pediu a Basílio Marreiros clemência em nome da feiticeira. O caso haveria de se resolver com a promessa de fim de conjuros e cerimoniais, mas nenhuma pena de prisão – até porque, como o administrador do concelho refere num ofício, a única voz que tinha acusado Maria Inácia era a de Luís Penico, que agora estava morto.

Custódia, a criança que viu tudo, cresceu aos cuidados dos padrinhos, sem carinhos de maior nem a solidariedade do povo. Aos olhos das gentes do Vidigal, era a última descendente de uma família maldita.

Não aprendeu a ler nem a escrever, os dias a semear feijão e nas mondas do arroz no verão. A sua libertação do passado foi o casamento, que lhe deu três filhos e estabilidade. «Só quando eu era adulta é que conseguiu contar‑me o que tinha sido a sua infância», diz Manuela Fragoso, filha da sobrevivente. «Ela sofreu muito.» Na verdade, a criança ainda tinha uma avó viva, a matriarca dos Tomé, mas laços nenhuns. «O Estado não deixou a minha bisavó ficar com a minha mãe por ter participado também nos bailes do Vidigal. E a verdade é que ela nunca gostou da minha bisavó paterna, tentou esconder‑me sempre da vista dela.» Nos montes do Vidigal também não voltou a pôr o pé. Custódia Tomé morreu há dois anos, acompanhada pelos três filhos e em paz.

Hoje, o Vidigal tem duas casas onde não vive ninguém e as ervas há muito que começaram a invadir as propriedades. No vale está escondido um cemitério do Neolítico, há quem vaticine que resulta daí tanta tragédia. Há 87 anos, numa manhã de maio, as bruxas organizaram o último baile que a povoação viu. Depois disso, a terra foi sendo engolida pelo esquecimento. Se não fosse o acaso de alguém entrar no sótão de uma casa algarvia, descoberto um molho de papéis antigos, a lenda tinha‑se tornado lenda para sempre. «Mas lá que aconteceu, aconteceu», diz José António, o padeiro. «E eu nunca acreditei em bruxas. Só sei que ao Vidigal não vou. Aquilo é uma terra de morte e de loucura. Mais vale não arriscar.»


Por: Ricardo J. Rodrigues 31/10/2016     

quarta-feira, novembro 16, 2016

A farsa

Em breve abandonarei esta farsa, esta praia de barcos ancorados feitos esqueletos disfarçados de navios mercantes carregados de tesouros.

Partirei para onde não exista viva alma, nem olhares indiscretos. Seguirei o vento e as nuvens até onde elas repousam quando não estão nos céus.

Deixarei para trás toda esta trama tecida por mestres da ilusão, escondidos nas sombras, mestres de marionetas inconscientes, como tu e eu.

Na ilha que me espera, habitarei o ponto mais alto e remoto.. Aquele que alcança além do mistério da linha do Horizonte.

Do eremitério repousarei as mãos cansadas e calejadas de tanto trabalho, tanta obra e tão pouco resultado.

Ouvirei os murmúrios dos lugares que antes habitei, os versos dos amores que sonhei, os lamentos das perdas que sofri.

Assistirei ao Vento a varrer os erros que cometi, às vozes de contestação a escreverem bilhetes em garrafas de vidro lançadas na maré.

Mudarei o meu nome de Eu, para Nós. Transformarei o meu, em nosso. Vós, Nós. Tu, Eu.

Partilharei de todas as dores, pois elas são tão minhas como vossas. Compreenderei todas as posições, calçando os vossos sapatos.

Sofrerei o frio e a solidão da Verdade, a abnegação da Mentira e serei a soma de todos os medos, de todos os horrores e de todos os amores.

Um homem sábio não muda o mundo sozinho... muda-se a si mesmo.

segunda-feira, agosto 08, 2016

sexta-feira, agosto 05, 2016

Love the life you live, live the life you love.

Think about it, this must be higher love ...
Down in the heart or hidden in the stars above!
Without it, life is a wasted time..
Look me inside your heart, I'll look you inside mine.




 






quarta-feira, abril 15, 2015

Abismo meu, abismo eu...

Tenho escavado em mim um abismo sem fundo, de querer e vontade.

Coisa oculta, só denunciada em alguns instantes...Sempre pensei que fosse melhorando depois da maior idade...

Mas não melhorou. Piorou. Apoderou-se de mim. Possui-me até ao limite da minha sanidade.
Percorre-me as artérias como fervente sangue pulsante, lava de vulcão, seiva do planeta.

Carrego hoje, mais do que nunca, esta fome do teu infinito, de te absorver os sonhos e misturar-me neles.

Este desejo que em vez de envelhecer e morrer, cresce! E como eu queria tanto que morresse...e eu com ele... Ter paz, diluir-me no nada e aplacar esta tempestade que não me deixa descansar.

Visto tantas peles, formas, abusos. Dou até nome aos vícios e a vida continua a ser esta piada tão séria?

O tempo promete mas não entrega os dias que desfaço em segundos tentando ser normal.

A tua falta é ferrugem que corroi qualquer fundação, e não há memória que resista...nem futuro a que possa pertencer.

Abismo meu, Abismo Eu, quando é que me uno ao céu?







segunda-feira, janeiro 05, 2015

Crash, Boom, Bang...A Lei das Coincidências.

 Diz-me, laureado Cientista. Doutor das causas matemáticas e da precisão de ponta de compasso. Senhor da mente e do planeamento, da gravidade e da conquista. 
Diz-me qual o modelo standard, o vigente nos vossos redutos eruditos, do nascimento do Universo?

 Ainda acreditamos em Singularidade, que é como quem diz coincidência e acaso, no surgimento de um nada que depois explodiu em tudo? Como quando pensamos em alguém, e essa pessoa surge à nossa frente??
Sim, faz sentido. Tanto sentido como no tempo dos antigos Navegadores, se desenhavam planisférios com bestas horrendas e um abismo de perpétua água escorrente diretamente para o ... vazio, nos limites do que não conheciamos ainda.

 Já agora, responde-me, se estiver a tempo: Consegues distorcer o tempo e o espaço, devolver-me alguma daquela loucura por trás do entusiasmo de uma criança crescida no Mundo? Ou quem sabe, até uma última conversa com aquele ente, aquela nossa metade partida desta vida?

 Desculpa-me o esgar e olhar desconfiado... Não é malicioso. Apenas me parece, que as tuas artes, ao longo de todo este tempo, falham em respostas que rompam o escuro deste nosso abandono. As tuas técnicas, transportam-nos mais rápido, mais alto. As tuas inovações permitem-nos ver até mais longe.
 Mas apesar de tudo isso, não nos tornou melhores. Não nos impede de matar. Não nos trouxe um mundo mais justo nem com menos sofrimento. Aumentou o requinte da mentira e a volúpia da crueldade. E onde pára o Amor nisto tudo?

 A Singularidade que nos gerou, foi realmente um acaso engraçado. Cómico, se pensarmos bem nas nossas vidas.

 Mas existindo uma força criadora, onde está ela? Porque não intervém e desfez o que criou?
Um olho que vê  tudo, a capacidade de perdão e abnegação. Um amor incondicional que lava de luz todas as sombras.

 Uma caixa de respostas, os segredos para o Universo? Como e porquê se deu a primeira Singularidade? O que são na verdade as coincidências felizes e os acasos macabros? Valerá a pena fazer planos?

 Calo-me. Tendes razão: As respostas estão no meu silêncio. Bem no fundo, todos sabemos: é a mesma mão que estende amor que aperta o gatilho... A nossa. E não a da força criadora. 

 Mistério resolvido!!!! E confrontado com essa moeda, escolho o lado do Amor.   

 Porém, resta-me uma única dúvida...: Qual será a dimensão do sofrimento do único homem a viver entre nós, e a possuir a verdadeira resposta para o mistério da Singularidade? 



quarta-feira, dezembro 31, 2014

Pára. Sente. Respira. Pensa. Resolve. Age.

https://www.youtube.com/watch?v=lQizAoA6rv8


"And that’s the point, isn’t it? That’s why we surf: to escape the mundane realities of modern life. Harnessing and riding these oceanic freight trains takes us back to a more elemental state: we’re animals, floating in an incomprehensibly vast liquid mass that simply doesn’t give a shit about us. It can give you the ride of your life, or take your life away with total equanimity; it doesn’t care. Nothing else is as humbling, or as thrilling."


Chamo-te Vento Norte, chama-te o teu Levante. Vem!! 
Não negues a nossa dança!!

Vem, como o Mar que se levanta de gala para beijar e fazer amor com a costa. O Mar que flui, sem raciocínio, sem controlo.


Entrega-te, como as aves que ganham asas e voam nas alturas para nos despertar a inveja da liberdade... Pensarão elas na dinâmica das correntes de ar ascendentes?

Flui, como Vento que uiva e dança,  pintando na tela imaginária celeste um sem fim de espirais e rastos coloridos... Trará Ele em si um pensamento formal estratosférico?

Sorri, como as Flores de Primavera, entrelaçadas em "bouquets" selvagens, desorganizadamente belos, nos campos que apenas tu visitas em segredo.

Eleva-te, com os recados que o Universo deixa por ai espalhados, em cantos, curvas, enseadas lambidas apenas pelo Sol. Os indícios, os detalhes, os pormenores. Esses agentes infiltrados que te desorganizam as ideias e lançam o caos ansioso. 


Percorre a estrada da Felicidade, que a Lua desenha à tua frente, recordando-te todas as vezes, que a maior certeza da Vida é a Morte, que o Tempo arenoso teima em escapar entre dedos sem retorno e que uma Vida sem O Amor, é uma condenação perpétua de um cego que não quer ver, a vaguear no Deserto. 
Entrega-te, num salto de fé, sabendo que o Medo é uma cortina de Veludo Vermelho em Teatro escuro, que mantém refém o publico e permite apenas aos curiosos, aos audazes testar a sua sorte. Aqueles que buscam e passam para o outro lado. 

" E se eu saltar e cair?" - Perguntas tu, gélido, indemovivel Vento Norte.
" Mas meu bem, e se tu voares ? " - Respondo eu, quente, vivo  com a firmeza de quem te aparará todos os golpes, e nunca te deixará cair no chão nesta nossa dança. Tu bem sabes que vale a pena.

O teu segredo, é o meu sonho, e o meu sonho a minha vida. 


Um dia pararei de pensar, dizes-me tu em jeito de promessa que ambos sabemos que não tencionas cumprir. 

O aviso já foi feito várias vezes... Os guias têm-te mostrado que a Alegria e a Paz, residem nas entrelinhas. 

A Vida não tem dono, nem tão pouco se importa com as tuas escolhas. Tanto lhe faz que vivas em tons seguros, conservadores, fixos em escolhas, ou que rompas o ventre confortável que criaste em teu redor e ouses ambicionar o Mundo. No final, ela recolhe-te sem aviso, tenhas ou não promessas para cumprir. 

A maior perda é Tua. A maior tristeza é Minha.

sábado, novembro 22, 2014

Amo-te, tu sabes.. mas não fico contigo.





Sonho contigo, mas não é ao teu lado que durmo,
Penso em ti incessantemente, mas não é o teu nome que escrevo.
Faço-te mil perguntas, mas não são as tuas palavras que me respondem,
Daria a volta ao Mundo contigo, mas não é tua a mão que agarro.


Por ti os meus olhos cintilam desde sempre, 
E tens até um lugar cativo na minha mente.
Mas quando o Outono traz o frio e a chuva,
Não sou eu que te aconchego no colo quente

Amo-te,dizes-me e sabes que é teu o meu coração,
Mas o meu futuro é outra pessoa, outro nome, outra relação.
É este o meu fado, a minha maldição desgraçada
Saber que sou o teu mundo, e ainda assim viver no nada.

Queria uma catástrofe, uma calamidade, a queda da Humanidade,
Pois nela não tenho fé, esta decadente sociedade,
Morreria e seria o fim do meu sufoco, da aflição, do tormento
Ou teria por fim a sós contigo o nosso prometido e eterno momento.

Amo-te, mas não fico contigo sussurras me tu naquele até sempre...
Mas afinal, que Mundo é este onde já nem o Amor tem o seu tempo, nem lugar presente?
Que Vida é esta, que fiz eu para merecer tamanho castigo?
Ser um principe num corcel alado, sem donzela em perigo?

domingo, setembro 21, 2014

Chefchaouen..A verdade.

Desde novo que oiço vozes.

Palavras e visões sussurradas ao ouvido. " Vai por aqui. Vai por ali. Tem Calma. Aguenta, resigna, encaixa o golpe e respira. Um dia vais ser feliz . Um dia Ela vai ser tua, um dia vais completo. O Mundo melhorará..Tende fé ."

Passaram-se anos, enquanto o mundo girava, pulava e avançava.

Observei, em silêncio, contido, fechado. Guardando para mim o que podem apenas ser rasgos de loucura, traços de psicose aos olhos dos Outros. Mensagens, Indicios.

O Planeta grita e a mãe natureza crispa-se perguntando-se como o seu sonho mais lindo e audaz, pode ser afinal, a razão para a destruição progressiva de tudo aquilo que se conjugou magicamente há billiões de anos. E nem a extinção de espécies irmãs, o aparecimento de epidemias, as alterações climáticas, a fome, as guerras, os exterminios, a avareza, a ganância, o capitalismo, -  e um sem fim de atrocidades que puxam mais fôlego de mim, do que o que tenho disponivel para gastar na descrição dos passos do Homem - serviram de alerta ou despertar para as " infidaveis capacidades compassivas, solidárias e conscientes do bicho Homem ".

Ah, malditos: se eu tivesse a possibilidade, carregava  no botão vermelho e terminava com isto tudo de uma assentada só. Não me entendam mal: apenas pretendia um "reset" à Humanidade. Um "start over"...  Uma simples tempestade solar chegava para "fritar" todos os dispositivos elétricos do mundo, colocando-nos num antes, que afinal, não é um passado assim tão distante.

Mal por mal, continuamos na idade das trevas, e ao menos, que não se desperdiçe a Luz a disfarçar a verdade do dia de Hoje.

Quando de repente, já não sabemos o que nos importa realmente, o que fazemos? Quando deixamos de acreditar, o que fazemos?

Desapego. Desapego. Desapego. Compaixão. Tolerância. Abnegação. Compreensão. Resignação.

Não podes mudar o mundo, muda-te a ti. Muda o mundo em teu redor.
Terás o privilégio de pisar uma estrada de espinhos e ainda assim, fechar os olhos e sentir o perfume de rosas.

É fácil. Podes ser uma Barbie, podes ser um Ken. Podes ser uma personalidade desde que tenhas "likes" suficientes para isso. Podes mudar de cidade, mudar de nome. Criar novos amigos. Viver numa outra esfera social. Limpar as alcunhas do passado e ser a capa de revista que sempre desejaste.
Emagrecer, cortar, esticar, encher, vazar, comprar, adquirir, possuir, vender, exibir. Também podes.

Mas não mudas o mundo onde vives. Não sozinho, Não sem cumprir o sonho da criação.

E alguém há-de ter percebido a ironia umas linhas atrás.

A caminhada levou-me a perceber que enquanto não tiveres a capacidade consciente de criar felicidade dentro de ti - a Complitude independente e isenta do próximo, do fisico, do materialismo - nada faria muito sentido. E a tristeza oculta na água dos olhos, continuaria lá.

Cumprindo o conselho do oráculo, parti, deixando tudo para trás, até mesmo o meu coração.
Nada me faria tremer. Aquilo que não nos acrescenta, só nos atrasa. É peso morto.

Homenzinho pretensioso e arrogante este, hein? - como dono da verdade, consegues perceber qual o potencial de cada um? Reconhecer a sua capacidade de evolução? O designio de mudança para mais próximo da essência da coisa?

No fundo, sempre pensei que ser santo, era fácil para quem vivesse em reclusão social, em clausura e longe das atribulações humanas. Sem ter que lidar com os "outros" numa forma pessoal, sem ter que pagar tributos, impostos, ceder a pressões sociais e lidar com as emoções.

Aprendi a viver comigo. A ser feliz sozinho. A passar o tempo comigo. Cultivei a criança interior, e espalhei seus frutos o melhor que pude. Sem deixar cair o traje e sem esquecer o mosteiro.

Aprendi a escrever Amor de uma forma tolerante e incondicional. Mas não estava no mosteiro.

E um dia, enquanto viajava por Marrocos, cheguei a Chefchaouen. A cidade toda pintada de azul.

Sendo moço de azul por conveniência biológica e causalidade genética, foi fascinante descobrir tamanho local.Com dias de viagem em cima, resolvi descansar por uns dias lá.
Sentado num fontanário perto da praça central, resfrescava-me chapinhando água para a cabeça e deixando-a escorrer pela cara.


Não era o único a tirar proveito daquela frescura onde as sombras não abundam.

Ao meu lado, sentou-se uma figura feminina, toda enturbada. Apesar de totalmente recoberta, senti imediatamente o cheiro do vento. E à medida que o seu rosto se despia em direção ao pescoço, reconheci em si a suave luz das estrelas, a gentil chuva de outono, o cantar das andorinhas a voar em circulo perfeito, os diamantes da neve, o aconchego da noite e o beijar lento dos dias de verão.

Era Ela. A que me tinham sussurrado ao ouvido que ia ser minha um dia. Aquela da qual eu já tinha desistido duas vezes, para sempre - Para Sempre mesmo!! Aquela que já me tinha esquecido outras tantas. Aquela de quem eu tinha tantas vezes fugido.
Têm que entender. Sabem o desconfortavél que é sentir o chão a tremer debaixo dos vossos pés? Sentir borboletas, na barriga? Borboletas não. Abelhas!!! As mãos não encontrarem posição para se firmar? A garganta a secar? As palavras a fugirem porque o cérebro simplesmente pára?? E ainda assim manter a postura?

Resolvi não fugir. Falei com ela. Disse-lhe duas ou três frases e que iria ficar uns dias por Chefchaouen . Convidei-a para um chá ao pôr do sol com vista sobre o deserto - em jeito de suplica - e fiquei a aguardar resposta.
Um desastre, naturalmente. Uma criança corada e sem jeito é sempre uma criança corada. Talvez por isso, a resposta nunca mais tenha chegado. Ou provavelmente, ela me tenha esquecido mesmo, e não haja magia nenhuma num encontro aleatório no meio das montanhas de Marrocos. Provavelmente, a magia está na minha mente deturpada e desajustada ao mundo.

Confuso, acabei por sair de Chefchaouen .  apesar de ter ficado o tempo todo preso à ideia de que um simples bilhete, em papel dobrado, com uma hora marcada, nunca chegou até mim.

Hoje, sou ainda mais escuso para o Mundo. Vivo num vale, com água, árvores, terra cultivavel e uma tenda. Afastei-me de tudo e de todos. Não vejo televisão. Não quero telemóvel. Não tenho internet e tanto quanto sei, o mundo pode acabar.
Passo os dias a tocar e a escrever musicas e no tempo livre fabrico peças de barro que vou pintando de azul, e deixando espalhadas pelo campo. Lembrando de como a mais forte convicção é um grão de areia na maré enchente, e que existem forças que simplesmente não conseguimos controlar.
Há perguntas que nunca terão resposta nesta vida e o Amor, é uma delas.

Esta poderia ser a minha história.

quarta-feira, janeiro 29, 2014

Contos do Deserto II - A busca do Sábio

O abade Abrãao soube que, perto do Mosteiro de Sceta, havia um sábio. Foi procurá-lo e perguntou:
- Se encontrasse hoje uma bela  mulher na sua cama, conseguiria pensar que não era uma mulher?
- Não - respondeu o eremita - mas conseguiria controlar-me.
O abade continuou:
- E se descobrisse moedas de ouro no deserto, conseguiria ver esse ouro como se fossem pedras?
- Não, mas conseguiria controlar-me para o deixar onde estava.
Ainda não satisfeito, insistiu Abrãao:
- E se fosse procurado por dois irmãos, um que o odeia e outro que o ama, conseguiria achar que os dois são iguais?
Respondeu pacientemente o ermitão:
- Mesmo sofrendo, trataria o que me ama da mesma maneira que o que me odeia.

Naquela noite, ao voltar para o mosteiro, Abrãao comentou com os seus noviços:
- Vou explicar-vos o que é um sábio. É aquele que, ao invés de matar as suas paixões, consegue controlá-las.