Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Who the cap fit.

Man to man is so unjust, children:
Ya don't know who to trust.
Your worst enemy could be your best friend,
And your best friend your worst enemy.

Some will eat and drink with you,
Then behind them su-su 'pon you.
Only your friend know your secrets,
So only he could reveal it.
And who the cap fit, let them wear it!
Who the cap fit, let them wear it!
Said ah throw meh corn, me no call no fowl;
Ah saying, "Cook-cook-cook, cluk-cluk-cluk."

Some will hate you, pretend they love you now,
Then behind they try to eliminate you.
But who Jah bless, no one curse;
Thank God, we're past the worst.
Hypocrites and parasites
Will come up and take a bite.
And if your night should turn to day,
Ah lot of people would run away.
And who the cap fit let them wear it!
Who the (cap fit) let them (wear it)!


Bob Marley

Iemanjá

"Procura-me, e encontra-me. Eu sou a resposta para as tuas perguntas. Tu és a cura para as minhas dores."

Passando uma barreira temporal e virando sexagenário, reuniu em torno de si à mesa, os seus entes queridos. Sem espaço para amigos na vida, não era de esperar que houvessem lugares vagos com espaço dedicado a quem não marca os seus dias.
Apagadas as pequenas flamas incandescentes e entoados os ritos, são atingidos os propósitos da pequena e reservada celebração.
Apressado, prestei-me a desimpedir a mesa, para as conversas fluirem sem necessidade das palavras contornarem obstáculos.
Terminado, fiz-me notar invisivel e acomodei-me a um canto da sala de jantar, perto da lareira e fechei os olhos.
As vozes à mesa baixaram de volume e o tom vestiu-se de sussurro segredado.
Sussurravam sobre mim.
Atento e incrédulo, ouvi a sua confessa falta de fé, demérito, falta de confiança, paternalismo arrogante e acusações sobre o meu pouco empenho e quase nula dedicação à minha carreira profissional.
Em silêncio, escutei.
Lacriflamejante, enrolei-me no cachecol, tapei a alma com os óculos de sol, vesti o primeiro casaco que encontrei, bafiento, com sabor a noite de Sábado.
O meu tio, olhava para mim, ao canto da sala, e sem conseguir mais que arregalar os olhos, alternava a atenção para a mesa do outro lado do "L".
Engoli em seco, aproximei-me sem que dessem conta, coloquei calmamente a mão direita em cima da mesa, acalmando o peito com a mão esquerda e disse:
"Lamento muito, sinto muita pena mesmo que pensem assim. Que sintam assim. Os negócios não descem mais, graças ao meu esforço, mas a minha fé em vocês não para de descer."
A minha avó, a outro interlocutora da conversa, exclamou imediatamente em tom aflito:
"Oh Meu Deus!! Tal e qual!! Não é nada disso que tu estás a pensar!!"
Ainda me doeu mais.
Virei as costas, não liguei nenhuma. Sem pestanejar para trás deixei a casa dos meus pais.
Atordoado do golpe traiçoeiro, confuso e magoado, rumei para o único local onde sabia que teria o silêncio e o espaço para afundar as mágoas.
Cheguei ao meu cantinho à beira mar. Não havia lá mais ninguém, excepto um outro carro parado, também ele de preto como eu. Estacionei.
Coloquei o capuz do casaco e dirigi-me para o banco esculpido pelo Tempo na falésia, onde costumo encarar as energias do planeta e escutar as novidades do Universo.
Pouco ou nada me faz sentido, quando tudo o que fazemos é pouco ou nada para quem admiramos e devemos respeito.
Em profunda silenciosa meditação e reverência, deixei que o vento me roubasse os pensamentos disformes e apunhalados.
Virei-me fixamente para o Mar.
Caminhei de Oriente para Ocidente, de Poente para Nascente, sem atitude de vitima da vida e tentando ser o milagre, um propósito para alguém, um instrumento nas mãos de uma força maior.
Passaram talvez vinte minutos, embrulhado neste novelo turbilhoso, quando o vento parou subitamente de soprar frio de Sul, e ouvi uma voz ao meu lado:
"Olá"
Virei-me. Era Ela.
Surgiram-me dicionários de poesia na garganta, mas não consegui articular mais que um atabalhoado e surpreso "Oi!"
Não esperava encontrar ninguém ali, muito menos ser encontrado, muito menos ser Ela.
Disse-lhe isso.
"Este é o teu lugar?" Perguntou-me. "O meu é aquela rocha ali, consegues ver?" Apontou na direcção do ultimo cabeço de falésia que apontava o horizonte para poente. "Está em fogo. Laranja. Consegues ver?"
Descobri os olhos e puxei ligeiramente o meu monástico capuz para trás e encarei-a no fundo dos olhos.
Senti-me em casa. Talvez ela se tenha também sentido.
Sorriu. Parou de sorrir. Sorriu novamente.
Sorri de volta.
"Ando meio perdido"
"Anda muita gente perdida por essa vida fora, mas eu não carrego comigo aquele que perdi, apenas aqueles que ganhei."
Faz sentido, pensei para os meus botões. Não posso ajudar quem não deseja ser ajudado, não posso ser limitado, por quem quer viver conformado.
Será que me ganhaste? Será que te ganhei ali?
"Talvez vá para a Austrália, Moçambique, quem sabe?" "Sabes como eu sou com as minhas indecisões. Tenho medo."
Certas inconstâncias do caracter, rimam com personalidade, rica e interessante. O mundo colapsou e tem caído em teu redor, mas ainda assim, aqui estás, aqui estamos."
Olhamo-nos e sorrimos. Sem paragens desta feita.
Senti o seu aconchego.
Olhei ao fundo, no horizonte, e vi o Céu em chamas.
Quando a procurei novamente ao lado, havia desaparecido, deixando atrás de si a sua silhueta feminina a ser levada pelo vento que entretanto retornou.
O frio dominou-me e regressou enquanto o Sol escapava, levando-a nos braços.
Senti o peso da solidão do missionário e chorei para o Mar, aberto, sem barreiras, coisa que nao fazia havia anos.
O apelo foi forte, e afagando a minha barba comprida e tisnada pela maresia salgada, vesti o fato ainda gélidamente molhado da última surfada, carreguei a prancha, os pés de pato, tranquei o carro e deixei a chave escondida no local de sempre. Iriam precisar depois.
Despedi-me e sai a correr por entre as escarpas até encontrar caminho que me guiasse até ao mar.
Saltei deslizando nos castelos de espuma, e remei com a determinação de quem sabe que nunca vai voltar a ser o mesmo em direcção ao horizonte, ainda em chamas.
Tenho que me perder, para me achar novamente.