Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

segunda-feira, setembro 26, 2005

What lies beneath...

Sempre disse na minha meia voz, inalterada, mas profunda e consciente, que nem tudo o que é dito nas noticias corresponde à realidade.
Sempre disse que as informações são tão verídicas quanto a mão de quem as rediz.
Um dia, poderei largar este meu segredo e molda-lo, esculpi-lo em letras verdadeiras, com a sabedoria e mágoa de quem realmente sabe do que se passou.
As noticias romperam no sabado, mediaticamente, com direito a equipas de reportagem e tudo no local do acidente.
Os cabeçalhos gritavam alto: "Acidente fatal em contra-mão na A22 ".
Maria Teresa Martins, era minha tia. Era não,é e sempre será.
Não obstante as demoras burocraticas de um falecimento que obrigam a familia pesarosa que quer fazer um luto em paz, rápido, a reviver vezes sem conta aquele dormente dia, ainda temos que levar com a besta insensivel da comunicação social, que anúncia tragédias como quem partilha um receita. Violência, estupro, fome, mortes, miséria, corrupção...
E as tragédias têm que vender. A tal noticia impacto. Mas a culpa não é nossa!! Nós apenas publicamos as noticias. A culpa é das fontes jornalisticas!
Desde Sábado à tarde, que a minha familia se tenta amordaçar em dores. Quem sentiu o arrancar despedaçante da foiçe da morte sabe do que falo.
Agora, não chegando ainda os efeitos da passagem dos ventos fúnebres, ainda temos que levar com as vozes da informação!
"As pessoas têm direito a saber!!". Lixo. Puro lixo.
Este não é um texto ficticio. Esta dor é minha, nossa, dorme na almofada a meu lado, acorda-me nos sonhos, vocifera-me quando os meus olhos quase descansam.
Isto não é uma noticia.Isto não vem nos cabeçalhos. Isto não passa em rodapé enquanto passam as outras reportagens, nem tão pouco é admitido nas imagens.
Não interessa se é verdade, ou meia verdade. As pessoas têm que saber! Têm esse direito.
Pois é, mas nós também temos direito à paz. Temos direito ao justo luto.
E apesar de não vos contar o que realmente se passou, se quiserem saber realmente que tipo de pessoa era a minha tia, perguntem-me, não leiam os jornais, não oiçam as noticias.
Essas, são fumo de tabaco, são shots de absinto, baforadas de ópio, linhas de coca.
Realidades distorcidas, embaladas e prontas a vender.
É assim. As pessoas têm direito a saber.


Paz à alma da minha estimada tia Maria Tereza Martins.