Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

B.L.C. , 17 anos, Peixes de signo. Aluno notável e presença subtil.
Sussurando era como falava, não fosse assustar alguém. Tudo o que falava parecia que era em segredo, o que quando interrompia aula com uma das suas ideias luminosas, causava aquele silêncio especado de olhar fixo em nós por toda a turma. Intimidativo pensava ele.
S.S. tinha 17 belos anos, Carneiro de signo. Sorridente, reservada. Há quem diga que foi a miuda mais linda que ja passou por aquela secundária. Senão veja-se, cabelos lisos compridos, com rios de cobre sol em toda a extensão, silhueta profunda e marcada de mulher e um jeito delicado de andar, que parecia que caminhava de mãos dadas com o vento.
B. era apaixonado por S. havia já 2 anos. Conheceu-a no 1º dia do nono ano, quando se estreou na escola publica. Sentou-se na aula de matemática lá bem ao fundo com o seu colega de carteira P.A. e viu-a entrar, como se fosse o filme de uma vida inteira, e de certeza que um dia quando morrer e tiver a flashar a vida que viveu, esta imagem estaria lá.
Na altura com 15 anos, namorava com um dos mais famosos e desejados da escola. De cabelo compridos, 18 anos, renault 5 verde ervilha, que arrastava atrás de sim comentarios soltos como: "Bommm!!" "Olha me aquele rabo!!".
B. perguntou quem era, e soube dessa historia. Disse: "Time will tell..."
P. disse lhe imediatamente: "Dude, esquece, é areia demais para o teu camião!!" e riu se.
Os anos passaram e a separação veio dura, como o frio do inverno.
Mas B. sempre continuou assim, fixo, atento, e sem ninguém saber, desenhava a em todo o lado, imaginava a, e sentava-se nas carteiras em seu redor em todas as aulas. Desde o 9º até ao 11º em todas as aulas o seu foco de atenção era ela. Escrevia lhe sem ela saber, começou a aprender musica para poder dar voz a melodias..e tudo em segredo.
Chegou a ir espia la de bicicleta ao quiosque nas Açoteias, num Sábado chuvoso, dia em que ela trabalhava em part time, para numa de casual ir ganhando sorrisos dela. Resultado? 14km de molha!
Mas persistiu, e á Sexta desanimava porque ela não saia à noite ao fim de semana ainda. E ao Domingo, espevitava e punha e tirava, vestia e despia roupa para na Segunda estar o mais desarranjadamente arranjado na sua presença.
Foi-lhe pedindo lápis emprestado, canetas, borrachas, cadernos. Devolveu-os com dedicatórias.
E foi pedindo mais, e conseguia sorrisos, palavras e olhares descontextualizados, sem nunca esquecer o que lhe disseram dois anos antes "é areia demais para o teu camião".
Um dia aconteceu. Foram tomar café, e B. sentiu se compelido a falar, falou a tarde toda numa mesa ao canto, na Riviera. Depois sairam e foram passear ao pau da bandeira.. entretanto escurecia e regressavam a casa. Todas as Sextas á tarde isso se repetia. Tanto que ainda hj B. detesta a expressão "Tomar café" e todos os actos sociais relacionados com isso.E entretanto, sempre falando, e S. sempre escutando.
Certa tarde ela telefonou-lhe, e pediu lhe para aparecer no Pau da Bandeira. Era bom ou muito mau sinal, ela ja sabia o que o coraçao dele carregava, e podia ser a crónica de uma morte anunciada. Saiu e levou um relógio emprestado. Era para dar sorte. E deu. Uma divida de gratidao que fica até hoje.
Ela disse que tinha andado a pensar, e aconteceu. Beijaram-se ao por do sol, na praia...
B. regressou a casa radiante, era a sua 1ª namorada a sério. Guardou segredo e manteve-o até hoje guardado debaixo do travesseiro.
S. está hoje em dia casada, feliz suponho, e a morar dois passos de mim, na Quinta do Infante.
E isto era eu ontem, cheio de fé, esperança e amor.
E isto sou eu hoje, descrente e patético, escrevendo estas linhas para tentar de novo voltar a acreditar em amor.
E sabem que mais? Já nem sei se quero...