Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Barca Negra

A Barca Negra

Quando a luz se escapa, e o grito é amordaçado, as minhas hordas de demónios começam a subir.
Tanto tenho de luz como de trevas, monstro de duas caras e dois destinos.
Já oiço o chamamento dos gárgulas, e o ritmo cardiaco ensurdecedor a galopar na sua direcção.
Atrás de mim, persegue-me uma horda de lamentos e uma multidão de queixas.
Vou esquivando-me com a elegância de um anjo caído e as folhas das árvores pavimentam o caminho
da minha fuga para o descanso.
Supondo que acredito na minha missão, persiste a obrigação de tomar conta por omissão, dos filhos
mais fracos, sofredores e que padecem de tudo e mais alguma coisa neste mundo cão.
Contudo, tenho uma réstia de humanidade, que me provoca inchaços do cérebro quando sou confrontado
com a incompetência e falta de visão do grandioso ser humano.
Parece que vou explodir, e quero ficar sozinho, enviar para a condenação eterna a glorificação estupida
do egocentrismo desenhado pelo criador sobre a forma de Homem.
Aquela presunção de superioridade, o sabor da ganância, a necessidade de se afirmar por cima e no
entanto um vazio de respostas tão vasto quanto o seu futuro.
Acelerando o passo e divagando nos castigos que torturariam para sempre esta pequenez em bicos de
pés e procuro a minha saída.
E esta dor de cabeça que teima em pulsar na metade direita da face?! Porque será que não passa?
Porque não se desvanece , desaparece ?
Não bastava já esta dor de coração e agora ainda me doi a alma ?
Não sou o Messias... Não sou santo... Não tenho que me sacrificar, não tenho que me entregar.
Não quero ser mais ou menos, só quero o meu direito à diferença, e não o tenho.
E a culpa é tua, Humanidade.
A culpa é tua Humanicidade.
Leva-me rápido barqueiro, conduz-me para as portas do inferno, para as negruras do pós-tempo,
pois inferno mais infernal que esta nossa vida decorada de demónios com nome, não há.
Sacrifica a minha humanidade, antes que me roubem a santidade e cuspa fogo e urros de besta,
tornando-me mais um demónio, mais um petulante homenzinho.
A culpa é vossa... A culpa é nossa.
Foge barqueiro foge, antes que me alcancem.