Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

terça-feira, setembro 12, 2006

«DEUS havia-nos guardado para qualquer coisa de melhor».

Há muito sem plantar letras e semear sonhos, eis finalmente revelado um canto do segredo que me levou a fugir das páginas soltas e ideias refrescantes, como receio das viagens à melancolia e triste saudade.
Estas foram as palavras que usei na despedida ao meu pai maior, o meu avô Quim, falecido a 12-05-2006.

"Boa tarde,

Queria apenas dizer umas breves palavras de homenagem ao meu avô,sr. carneirinho.
Apesar desta grande tristeza que me acompanha, não vos quero falar de morte.
A morte tem tanto de certa como incerta: certa porque somos todos seres perenes e
incerta apenas porque não sabemos quando perecemos.
Por isso, na certeza da incerteza e impermanencia, prefiro falar de vida.
De vida, posso dizer que tudo muda, tudo se altera. É assim na natureza,é assim
connosco e faz parte da nossa condição de Homem.
O tempo passa sem darmos conta, enquanto estamos apegados às nossas vidas
materiais e ocupadas com futilidades ou preocupações do quotidiano.
O nosso corpo altera-se, transforma-se e muda. E a nossa postura continua a mesma:
apesar da nossa condição inteligente, construimos, construimos incansaveis como se vivessemos
para sempre, numa viagem que nunca teremos tempo de disfrutar quando chegarmos ao destino.
E por isso pergunto: com que finalidade? Evoluimos materialmente mas espiritualmente
persiste uma lacuna.
O meu avó ensinou-me a abrandar, a contemplar,a admirar e pasmar com as pequenas coisas, as coisas
do nada. A disfrutar dos prazeres da vida e das maravilhas da natureza.
O meu avó insistiu na minha boa educação e valores, e motivou me a chegar mais longe.
A persistir com fé na busca do conhecimento e com isso descobri que a maior riqueza que
podemos ganhar é a evolução espiritual.
Mas de longe a maior lição que aprendi com ele e com a minha avó margarida, foi o amor;
juntos desde sempre e juntos para sempre.
Descobri ao longo destes 8 anos de doença do meu avô em que a morte chegou lentamente que
o amor sempre prevalece.
A sua força ultrapassa-nos, não há amor partilhado em vida, que seja suplantado pela morte.
Por isso digo que devemos amar mais, abrir mais o nosso peito e partilhar.
Dividir convosco o maior tesouro que descobri: a vida acaba, o tempo urge,
deixemos bem claro de quem gostamos, o quanto gostamos, pois quem ama nunca esquece
e o nosso dia há-de chegar, sem aviso.
No frio e solidão da perda, é este amor que nos aquece, guia e conforta.
Acreditemos com fé em algo maior, e assim quando partirmos para o lado do Senhor, o
nosso amor estará também e para sempre com quem fica.
Muita fé, esperança e amor.
Obrigado Avô Quim."