Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

terça-feira, outubro 13, 2009

Beija Flor

Num bosque não muito distante da babilónia, havia um pássaro que nem voar conseguia.
Quando se via espelhado nas águas mornas do lago que avivava o arvoredo, as suas penas não reluziam, e o seu cantar não fazia vibrar o ar.
Era uma criatura apagada e desapercebidamente interessante.
Onde todos os outros se anunciavam brilhantes, comparando plumagens e discutindo a mais bela e bonita flor que haviam beijado, ele consentia em silêncio o seu penitente insucesso.
Muitas vezes servindo de poleiro aos mais abusadores, nem isso o perturbava.
Como pouco tempo passava em dominio social, a sua esfera pessoal era para todos um enorme mistério.
Mas o seu ar de distante pensador, mostrava-lhes, sem tomar conta, que os verdadeiros voos são os das viagens que se realizam por dentro. A sua serenidade esculpida em pedra pelos dissabores da vida, incomodava e invejava.
O impacto da sua presença, simples e de linhas direitas, era ao contrário do que ele sonhava, um encanto. E apesar de voar bem assente no chão, em segredo todas as flores o admiravam.
Tudo o que é estranho encanta ou chama a atenção pela novidade e pela diferença.
Rapidamente se espalhou pelo bosque, fruto de frivolas conspirações coloridas de inveja, que a sua figura carregava cruzes e fardos de um passado, que o devia envergonhar.
Por não possuirem o seu porte, os ataques eram sucessivos e repetitivos.
Os argumentos e as histórias que se contavam rapidamente passaram a ser verdades assumidamente genuinas.
A injustiça possuiu-o quando encarou o que se passsava.
As flores que não o tinham como companheiro de primavera, pintavam-no o pior do pior.
Os teatrais e burlescos amigos, derramavam o verniz das alegações falsas sempre que podiam, tentando macular a sua plumagem.
À sua frente todo o mundo sorria; na sua sombra todos o apontavam.
"Arrogante, convencido, mimado, pretencioso, galanteador, ridiculo, egoísta, snob, descuidado, antipático, novo-rico, vaidosão, pavão" - alguns dos adjectivos qualificativos usados nas canções de grupo sobre a sua figura.
Dorido e magoado, optou por se recatar ainda mais.
Na sua ideia, o que poderia ele possuir que despertasse tanta atenção?
Olhando a constelação guia, apontou a direito para a estrela polar e de tanto caminhar em frente, fugindo do seu antigo reduto, acabou por se ver orientado pela estrela cruzeiro do sul - tinha dado a volta ao mundo.
Foi ai então que percebeu, que ele podia estar no outro canto do universo gerado... mas a ferida induzida na sua alma iria acompanha-lo. Não é a distancia que se percorre cá fora, é a viagem que se inicia por dentro que interessa.
Regressou.
E voltou ao que fazia antigamente: ainda mais simpático, ainda mais misterioso, ainda mais falado. O tempo iria-lhe dar razão.
O falatório gerado ultrapassou fronteiras... e de longe vinham outras aves para o virem ver, de longe, como quem espreita o teste do parceiro de carteira. As flores empinavam-se em falsa indiferença, mortinhas por o ter como exclusivo parceiro.
Escreveu um livro. Foi reconhecido universalmente pelas suas qualidades genuinas e humanas. Tornou-se um guru e um mestre.
Ascendeu a outra esfera e mesmo não voando, a sua energia olhava bem de cima os outros que outrora o julgavam.
Pois a diferença é um tesouro que se cultiva, não se ganha na educação e é proveito da inspiração.
"Conhece-te e constroi-te permanentemente." - foram as suas ultimas palavras antes de abandonar a floresta que o viu nascer e partir para o Mundo.