Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

sábado, dezembro 17, 2005

Às quatro e meia as pernas cansadas descambam no sofá de pele antiga e riscada pelas agruras da infantilidade, mas exibindo sempre com orgulho as cicatrizes das traquinices da miudagem que foi marcando as gerações da casa.
Solta-se um suspiro cansado, exalando as tensões bem guardadas e arrumadas no canto da mão trabalhadora durante a labuta da semana. Como antigamente, como sempre.
As ruas calcetadas harmonizam a queda cadenciada da chuva afinadas, musicadando as travessas apertadas e esguias, e as recordações de natais anteriores afloram à tona no meu sobrolho franzido para repelir algumas gotas pluviosas ainda escondidas que nem pulgas nos meus cachos de cabelo.
O abraço quente da lareira pinta-me de rosa a face, e aquece-me com isso também um pouco do quese costuma chamar de "coração".
Um coração é vasto, guarda coisas boas e coisas más, e torna-nos nos mais cuidadosos e dedicados seres humanos, como também é capaz de nos levar a pensar, pior até a dizer e pior ainda a cometer atrocidades.
Todos os corações precisam de manutenção, atenção, cultura, precisam de uma ou outra revisão de valores, e é até por isso em determinados assuntos que jorram à mesa animosa, eu costumo encerrar as hostilidades dizendo: "enfim, podiamos levar a conversar sobre isto a tarde toda.. porque tu tens a tua visão, eu tenho a minha, e a minha tem tantos anos quanto eu, e a tua tantos quanto tu. Poucas certeza existem nesta vida como a nossa em existir."
Eu sou daltónico, de uma familia de daltónicos, tanto quanto me lembro da minha avó me contar que o meu bisavó Refia trocava laranjas por limões, e citrinos eram para ele, todos de um só tipo: laranjas.
Muitas vezes quando porventura sou apanhado enredado e despistado nas nuances coloridas, sou confrontado com a pergunta "Como é ser assim? Como é não ver todas as cores?".
Normalmente sorrio, e digo uma piada qualquer com limões e laranjas. Mas no fundo nunca me aventurei muito exaustivamente nesses meandros.
Mas talvez seja por isso que falando de coração, me apercebo, que vendo menos que os outros, vejo mais que o todo, independentemente da minha filiação astral pisciana que já me empurra com uma brisa tendenciosa para a observação.
E assim chego a uma conclusão tão elementar quanto o preto e o branco.
Afastando os ornamentos religiosos, as palavras diplomáticas e os media manipulados, conseguimos ver o essencial.
O conformismo é-nos apresentado como uma manta acolhedora e confortável, até porque "pensar não dá muito jeito" quando tudo o que nos aparece à frente vem já mastigado, triturado e pronto a engolir.
No fundo de tudo isso ressalta a verdade elementar que deu origem a todas as correntes religiosas: O amor!
Falta amor! Não se fala o suficiente de amor. E não! As novelas da globo, nem as da fabulosa produção nacional da Tvi e nem os 1000 episódios enrolados dos Morangos com Açúcar com todos os seu beijos técnicos, e pretensos e intensos "Amo-te" contam para esta contabilidade.
Retornando de volta às origens de tudo, perceberemos que o essencial é isso. Dar amor, retribuir amor. Cristo falou de amor, Alah falou de amor, Buda falou de desprendimento e amor, Shiva era amor.
São cores diferentes, tecidos diferentes, texturas dispostas de outros modos, mas todas elas são amor.
Precisamente por isso, o amor não tem dias próprios, nem quem ama precisa de ser relembrado pelas insistentes campanhas de marketing que o hoje e o agora são o momento para voar.
Descortinando as formas e os contornos eu não vejo cores, vejo amor.
Por isso muito me agrado de ser daltónico, e mais ainda, de ver o essencial.


Boas festas e Feliz Ano Novo
B.