Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

quarta-feira, abril 21, 2004

“Há três tipos de homens... Os vivos, os mortos e os que andam no mar”
Platão


Os amores impossíveis.....

O ... não vive em função de projectos, vive um dia de cada vez. Agora viaja, daqui a dez anos sabe-se lá o que estará a fazer.
O ... gosta de A ... e tem pena de não poder dar-lhe mais. Mas para um surfista não há força maior que a atracção pela próxima onda. E para um surfista em viagem pela vida, a próxima onda não é apenas a do próximo set, é também a do próximo continente. Um surfista em viagem é como um marinheiro, só que, em vez de ter uma mulher em cada porto, um surfista sonha com uma onda em cada praia.
O ... gostaria de preencher o instinto maternal de A ... com sua virilidade, gostaria de lhe meter um filho ao mundo e depois de lhe acompanhar a maturidade pelas décadas fora, gostaria de lhe construir um lar.
Mas a existência de O ... é uma sucessão de portas abertas, correntes de ar do exterior, raios de luz que atravessam janelas escancaradas, telhados descobertos. A casa de O ... é o mundo inteiro.
O ... ama A ... embora à sua maneira. Os seus olhos são doces e transparentes quando olham fundo dos olhos de A .... as suas promessas têm limites sensatos e uma indefinição sincera.
As mãos de O ... acariciam o corpo de A ... com a mesma intensidade duma troca de olhares entre um marinheiro e uma sereia. Dois olhares que se cruzam durante um momento, que concentra tudo o que poderia ter dito, tudo o que se poderia ter feito, tudo o que poderia ter sido.
É assim que O ... deseja e possui A ..., é assim que ele se entrega emocionalmente a ela. O ... ama A ... com a paixão desesperada dos amantes que têm os segundos contados. O amor de O .. é uma sucessão de emoções intensas, a vida é uma vertigem de suspiros.
O ... ama A ... pelo efeito que A ... provoca em O ...
O ... sabe que A ... é um amor de passagem, um amor de uma só vida e não mais, mas não se importa. Nunca se sentiu assim Homem com outra como se sente com ela. Quando O ... lhe percorre a coluna suada e arquejante, quando abraça a cintura estreita, quando lhe toca, quando a beija, nada ,mais importa a O ..., só o prazer e a liberdade. O ... ama A ... sem limites, sem horizontes, sem remorsos.
É assim que O ... deseja A ..., é assim que se entrega emocionalmente, é assim que O ... ama.
A vida é o amor, e o amor uma viagem. O amor escreve-se com saliva e suor, com sal e maresia. Escreve-se com brisas suaves e luares prateados, tardes laranja e recifes salgados. O “amor” escreve-se “mar” numa outra lingua esquecida, num olhar perdido, num tempo longinquo.
O ... sempre foi e sempre será um Homem do mar.
O ... ama A ... pelo efeito que A ... provoca em O ... ou será o contrário?

Gonçalo Cadilhe
07.05.2002