A tarde surgira, soturna e melancólica, com a lentidão da solidão escondida no seu mais profundo ser.
As ruas, ainda molhadas da chuva miudinha, encontravam-se com um ar de abandono sombrio e invulgarmente frias.
As poucas almas circulantes, fitas no chão e de rumos fixos para outra dimensão.
Um par chamou-me a atenção. Embrulhados debaixo de um longo sobretudo de veludo preto, nas suas auras separados, vagueavam a compasso alternado nas calçadas húmidas, sem saberem muito bem para onde.
Um velho violinista, tocava ancestrais melodias celtas ao pé da velha ponte romana de pedra, nestes dias, enfeitada de luxuriantes heras, enroladas em seu redor.
Continuaram timidamente, sem tão pouco levantar os olhos ou esboçar uma reacção.
A escuridão impôs-se ao dia, e gradas gotas de água gelada jorraram dos céus completamente negros.
Um abrigo. Uma casa. Uma porta entreaberta. Do seu interior voavam odores doces, suaves e coloridos.
Adensaram caminho por meio de corredores empoeirados e cobertos de teias de aranha, pisando soalhos confidentes de histórias passadas, nem todas elas felizes.
Os pensamentos seriam poucos nas mentes de cada um, à medida que avançavam na estreita escadaria, na direcção da luz, calmamente.
O ar no topo era leve, límpido, quase primaveril. Ouviam-se gritos e risos simultâneos, em expansões múltiplas de alegria.
Acercaram-se de uma varanda que sorria para um jardim pequeno e humilde de tamanho, mas de infinita beleza florida.
Dois vultos corriam em torno de um tenro fontanário, como crianças, para se encontrarem em ternos abraços no outro lado.
Estranhamente, uma luminosidade preguiçosa e morna, pairava em paletas de cores no ambiente.
A calma, a paz e o calor da serenidade.
Os dois vultos desapareceram de súbito nos braços um do outro, como se de um abrigo se tratasse.
A curiosidade empurrou-os a descer para perto do fontanário azul turquesa, que continuamente contava fábulas de príncipes e princesas juntos para toda a eternidade na volúpia platónica do amor.
Aí permaneceram sentados e isolados, ouvindo os sussurros secretos de pássaros enamorados esvoaçando em ousadas coreografias.
Passeando de mãos dadas, surge o misterioso par de jovens amantes, envoltos na penumbra que protege os de coração puro, avançando para eles sorrindo de um modo estranhamente familiar.
Sentados, entreolharam-se de espanto nos olhos acelerados, para de novo procurar o encontro com tão intrigante par.
Haviam desaparecido.
Não foram precisos mais do que alguns instantes, para se aperceberem que os familiares sorrisos eram senão os seus.
Sorriram e abraçaram-se, desaparecendo agora eles, caminhando unidos pelos lábios na penumbra.
No exterior a chuva parara, e pequenos arco íris reflectiam-se nos pequenos charcos no chão. O sol brilhou, e continuou a brilhar doravante, nem que fosse apenas no interior de peitos tão inflamados.
I´m in love with the world
Through the eyes of a girl
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