" O meu nome não interessa. Nasci há muitos milhões de anos atrás, não sei precisar ao certo, a verdade é que não o sei.
Sou uma entidade celeste, um semi Deus e um semi Demónio, com a força dos dragões e dos titãs, um espiríto heroico e metafísico, racional e apaixonadamente trascendente.
Recordo os primórdios, os tempos obscuros, a formação do universo pelo meu irmão Caos, o nascimento dos mares por Tiamat, e no caldo primitivo, o nascimento do Amor por Afrodite, e com ele, a vida.. a vossa. Tudo como o descrito nas escrituras ancestrais, que forjaram a história.
No meio das colunas góticas do meu templo, nos espaços ideais, descortino os mistérios dos Deuses, dos Génios e das coisas. Sou um vigia. Observo. É ai que dedico a minha existência, na busca da apurada sabedoria debaixo dos meus olhos.
Procuro um sentido no fluir dos mundos, um significado final para a minha presença, um porquê à minha percepção das singulares almas humanas e os seus conturbados espíritos em sofrimento e tingidos de tristeza.
Dobrei, amarrotei e quebrei as leis das tábuas sagradas, que eu próprio escrevi, na minha demanda pelo supremo entendimento.
Fui homem, mulher, velho, criança.. vivi e morri uma infinidade de vidas para o entender, compreende-lo na sua totalidade, vê-lo na sua grandeza. Até que finalmente o encontrei nuns ternos braços, pela primeira vez.
Vi-o depois morrer num sopro num campo de guerra, partir num apito de um comboio, florescer carinhosamente e adormecer num leito, moribundo e perdido à nascença.
Mas nunca o consegui entender, compreender. Nem domina-lo, fazer-lhe frente, tê-lo para dispor como se fosse minha propriedade.
Falo da essência criadora do Amor... Terno, platónico, contrariado ou absoluto, colorido ou daltónico, filial ou marital, mas sempre Amor.
Podia-vos falar de Amor durante toda a enternidade, e ainda assim outras tantas ficariam por ocupar.
Contudo, ainda pouco sei. Nada me foi desvendado sobre a sua origem, os seus caminhos e as suas razões.
As dúvidas acumulam-se, formam teias de perguntas, gradualmente mais densas, mais consistentes e fortes até que me impedem de avançar, de passar à pergunta seguinte.
Vasculhei este baú velho e poeirento da humanidade cidade, as minhas recordações e dei com Ele lá hospedado, nas mais elementares matrizes das emoções. Ele era sempre O responsável.
E foi assim que surgiu um novo mundo. O problema? Qual a pergunta?
A resposta? Tão simples!
Perguntar é não entender, é estar cego do olhar. Os seus propósitos são outros.
Ele não pode ser dissecado, nem digerido. Ele é o elo de ligação da criação. Foi através Dele que tudo foi arquitectado.
Por mais interferências que o seu chamamento tenha, por muito surdas que sejam as suas palavras, ele só tem de ser sentido, como os dias devem ser vividos.
Esse é o segredo...
O nosso nome não interessa. Nascemos há muitos milhões de anos atrás, não sei precisar ao certo, a verdade é que não o sabemos.
Somos as estrelas do céu noturno, o sol morno das tardes de inverno. Somos o chilrear do mundo e o uivo dos lobos. As lágrimas dos que choram, e os sorrisos dos bem afortunados.
Fomos separados no caldeirão de almas. Lutamos. Encontramo-nos, e continuamos a nos encontrar.
Estamos juntos desde então, porque um dia acreditamos, e hoje continuamos a acreditar.