A escultura de areia

01.06am

Quando tu caminhas pela praia, revejo te no vento.
Quando tu murmuras em desespero, oiço te no mar revolto.
Desenhas com uma cana partida, viajada pelos oceanos, a imagem que de ti reflectes.
Amontoas conchas e algas.
Dedicaste horas a fio nessa ideia, nesse aglomerado de iras e valores, contestações e exigencias. E depois contemplas-te.
Vem a preia mar, e tudo a espuma leva. E tu percebes que afinal não era bem assim.
E que as certezas não eram assim tao certas e as tatuagens assim tão profundas.
Ainda assim repetes todos os passos novamente, como se fosse a tua rotina matinal feminina, razoavel de 45minutos a te arranjares. E nãp admites a possibilidade. Nem tão pouco fazes fé.
É te mais facil acreditar cegamente em Deus, do que na religião da vida.
Dizes-me que mudar é impossivel. Nada muda. Um Homem não muda.
Eu respondo te que a areia é realmente a mesma, mas que ha tantas formas possiveis de te redesenhares quanto existem graos de areia naquele areal.
E mais! Tu que enterras passados, cospes fogo quando o pronuncias e gelas por dentro, perdes amplitude de visão quando te cinges ao que sabes, e contornas todas as formas como te contornas a ti.
Eu bailo com a baixa mar e preia mar. Construo e destruo. Ivento e recrio.
Sem medos.
A vida é a força do mar contra a falésia e a ira do vento contra as dunas.
As arestas suavizam e são retocadas minunciosamente, e as dunas encaminhadas e batidas como um rebanho.
A mudança existe em todo o Universo, em niveis temporais que nos sao completamente incompreensiveis, e no entanto, o Homem não muda?
Entrando no bailado cósmico, meditando nas vibraçoes kármicas, aos poucos percebemos que o nosso caminho acompanha tudo o resto.
Eu não tenho passado,eu tenho uma vida.
E eu não mudo, eu evoluo.
E as minhas esculturas, entram sempre na dança dos ventos, das marés e das luas.
E é isso quem me faz: o Sol, o Mar, as Estrelas e a Lua.

01.26