Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

terça-feira, outubro 18, 2011

Pedra de Lume

Retorno da ilha dos mortos, dos fantasmas de sal. Regresso das sombras e das costas recortadas, abandonadas, àridas e sombrias. 
Dos confins isolados a perder de vista, por entre baias de piratas e vulcões que apenas mantém o nome por simpatia.
Até a morte se esqueceu que neste paralelo pouco acima do equador, algures por entre as pedras e desertos, existe vida.
Uma vida simples, sem pretender impressionar ou socializar. Cada um na sua passada. Cada qual com a sua dança.
Invisivel, a energia paira no ar. E sente-se a essência simples do pulsar.
Há quem procure a ilha dos mortos, para purificação no sal, outros por mera e turistica curiosidade.
Mas para quem estiver atento, o cheiro de uma verdura que não existe, é apenas o prenuncio dos detalhes que se vão descobrindo por caminhos pouco trilhados, emoldurados de cobras, centopeias e escorpiões.
Uma janela dimensional distorce o tempo. E nessa malha, é a nossa própria mão que assina o pedido de permanecer incontactavel, desligado das redes sociais, dos satelites, ponte entre tudo e todos.
A liberdade deixa de ser um telemovel livre de assinatura e passa a ser um pensamento que acompanha os fortes alisios no céu.
Sem modas. Sem valores. Sem vaidade.
No castigo do Sol  impiedoso, a sobrevivência estipula que tanto o mais rico ou o mais pobre necessitem das mesmas sombras e das mesmas fontes de água.
Na escassez de alimentos, que seja o pão partilhado por aqueles que trabalham a recompensar o seu suor.
Sangue, suor e lágrimas. Sem novelas nem dramatismos de assinatura cliché. A vida aqui é bem mais estranha que qualquer ficção.
A austeridade vence. Mas esta é uma austeridade que existe desde o inicio dos tempos, bem antes de um punhado de Homens cometerem os seus erros contra os seus irmãos e dai retirarem dividendos.
A vida evolui, veste roupas finas e habita abrigos requintados. Alimenta-se de iguarias e até tem tempo para vicios e negócios. A vida tem dress code e sunsets. A vida tem impostos e indignação.
Na ausência de tudo, percebemos quem somos. E assumimos o nosso caminho. Não há espaço para mais.
Podem levar a minha carteira, podem taxar a minha missão. Mas não mudam o caracter. Tal como pedra no deserto, tal como falésia contra o mar.
Podem dar um número à minha carcaça, mas não me conseguem fazer esquecer o privilégio de ser Homem. E ser Homem é tão mais que ter assinatura.
Se a morte não descrimina, que a vida tão pouco o faça.

Sal, 15 de Outubro.