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...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

quinta-feira, abril 08, 2010

Vassili Tzaihev

O ano, 1942. A história, a de um pastor dos Urais, tornado heroi pela força das circunstancias.
Vassili tinha 23 anos quando foi chamado para o Exército Vermelho.
Colocado na linha da frente em Estalinegrado, foi empurrado no desembarque, numa vaga de soldados, equipados em dupla,um levando uma espingarda semi automática de 5 tiros e o outro carregando algumas monições.
A ordem era de marchar, avançar contra as barricadas alemãs.
Protegidos com tanques panzer e metralhadoras, os alemães iam descarregando salvas de tiros nas centenas de soldados comunistas que corriam na sua direcção heroicamente e morriam como insectos esmagados pela avalassadora força bélica do poder de fogo alemão.
O parceiro de Vassili carregando a arma, tombou com um tiro no peito.
Vasili, assustado, cercado e sem experiência em fogo real, barricou-se debaixo dos cadáveres dos seus camaradas.
Assim permaneceu até que a ofensiva vermelha terminou e os alemães começaram a certificar-se que os corpos no chão estavam de facto mortos, disparando e espetando as baionetas nos inertes e infelizes soldados.
Caída a noite, Vasili rastejou até uma arma e virou-se na direcção de um oficial alemão que tomava banho num alpendre dum prédio destruido, acompanhado de 3 subalternos na ressaca da batalha.
Estavam a bloquear a única saída possivel daquela praça.
Corajosamente, empunhou a espingarda e em silêncio apontou para o oficial, e no meio de uma bomba distante, disparou sem se fazer ouvir. Repetiu o tiro 3 vezes mais. Cada tiro, um falecido.
Foi-lhe reconhecida a habilidade natural para a mira certeira e promovido a atirador sniper.
O seu avô ensinou-o a disparar.
Rapidamente se tornou um heroi nacional.
Continuou a combater e cada vez com mais pericia e conhecimento táctico.
Os seus feitos eram comunicados para o resto do país, moralizando o povo e dando a ideia de uma vitória possivel. Propaganda.
Choviam-lhe elogios, medalhas e até cartas de admiradores.
Não sabendo escrever, era apoiado pelo oficial vermelho que o acompanhou desde a sua primeira missão, e que devido ao ciume do amor de uma mulher, o acabou por trair mais tarde, levando à sua morte.
Ditava-lhe lentamente as cartas, corrigindo-o na ortografia frágil e caligrafia básica.
As suas mãos foram feitas para disparar e não para escrever, reconhecia.
Ainda assim, escrevia todas as noites até à exaustão, algumas nem passava pelo sono e ia directo para batalha.
Cansado, eram assim repetidas sucessivamente as suas noites.
A empreitada era tal, que finalmente tiveram que lhe perguntar porque se dedicava tanto a responder às cartas.
Havia tempo para descansar, e as cartas de resposta poderiam esperar.
Respondeu-lhes que todas as noites, cada pequeno gesto que tinha era uma celebração. Pois nunca sabia se iria voltar para os repetir na noite seguinte.
E por isso era tão importante responder. Pois aquelas pessoas tinham posto as suas esperanças nele e perdido tempo a escrever-lhe.
Os trabalhos nos campos, as minas de carvão eram tão dignos como a sua missão.
Sabia que não assistiria vivo ao fim da guerra.
Ele dava-lhes esperança de um fim de guerra rápido, e eles davam-lhe a esperança de um mundo em paz, ainda que isso custasse a sua morte.
Homens existem que nascem grandes, e Homens há que se tornam grandes e há tempo para tudo.

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