Life´s to short to blend in...
O vento crispa-se contra as falésias, tal como o meu estômago se enrola na minha boca.
Não sei quantas vezes já te vi passar, Vida, descendo a rua serena e alegre em direcção ao mar.Vais cantando "... he gives me butterflies in my tummy..."
Não liguei, de tantas vezes que passei por ti.
Vou absorto, fechado e insondável. Encerrado em livros de mistérios, poeirentos e trancado a cadeado. E ainda que me abrissem, o código é degenerado e indecifrável, sem uma chave a auxiliar uma tão complicada tarefa. E, convenhamos, hoje já ninguém gosta de coisas complicadas. Eu sou complexo.
Não me julgues, Vida. E poupa-me essa conversa já mais que mastigada do "as preocupações sao para ser trocadas por ocupações" ou "futuro é hoje", "o presente é que conta" etc. etc. Fui eu quem encadernou o livro de onde tiraram esses lugares comuns. Não se aplicam ao meu dia. Nem o olhar mais atento saberá porquê.
Vida, viajo por dentro de mim, como um pequeno sistema solar, mais um subproduto da fisica quântica do pensamento.
Não te sorrio, e esquivo-me por entre as notas musicais das cordas de aço recheadas de efeitos reverberantes. Podia estar mais descontraido.
A verdade é só uma. Tal e qual saltar de um avião a 3000 pés de altitude. Tenho medo.
Medo Vida! Medo de que, se em vez de ser minha a origem do beijo, mal me toques eu me desfaça, de ser luminoso e equilibrado, para escombro de avalanche, despojo de enxurrada. Medo Vida, que me descubras o caminho das lágrimas.
Pode um Farol tirar dias de folga? Pode um faroleiro deixar a sua missão por luto interior? Pode o monge ermita deixar de praticar a silenciosa caridade por precisar de cuidados ainda maiores do que a sua missão?
Vida, passo por ti, e não te sorrio. Porque Vida, hoje é o dia em que me encaras nos olhos, e descobres o fraco e humano que sou. Hoje é o dia em que o fardo é maior que as forças.
Vida, tu dás-me borboletas no estômago. Eu vou querer saltar, e não vou conseguir.
Complexo como sou, não sirvo de companhia, apenas de fardo ou peso morto.
E convenhamos...ninguém gosta de coisas complicadas.
4 Comments:
At 3:16 da manhã, Anónimo said…
Tens toda a razão. Ninguém gosta de coisas complicadas. Tens que fazer um esforço para ser menos complicado... e aposto que a outra parte também fará um esforço para aceitar a tua complexidade. Dar e receber, sempre.
(...raios... quem sou eu para dar conselhos?)
At 10:44 da manhã, Dina Faria Estassi said…
Ninguém é complicado na sua busca de sentir esse sentimento doce e bom de ser amado... Ninguém é complicado quando sente saudades de caminhar caminhos de mãos dadas onde os sorrisos fazem simples morada na ternura do olhar... A vida é imensamente simples e nela existimos mergulhados qual útero da nossa mãe... mas nela existem tempestades e tormentas... perdas e saudades... e então a vida dói... mas não somos complicados...
At 8:29 da tarde, Anónimo said…
Tanta dor,tanta solidão,tanto sofrimento...tudo o que escreves é tão sentido tao doloroso que sofoco a cada palavra e choro em cada vírgula...god...como gostava de te poder ajudar,mas nesta luta de emoções e contariedades...so tu te podes salvar!grita,chora,esperneia-te...mas liberta-te de tamanha solidão,a vida é bela abre o teu coração,ninguém é suficientemente complicado para não ser desejado,ha sempre alguém que está sempre lá,nós é q nem spre temos a capacidade de ver.......
At 6:43 da tarde, Reeho said…
Medo?
Medo da vida?
Se medo tivesses, de medo já terias morrido.
Olha só como alegras o dia, Bernardo.
Sabes que sim.
Um beijo
Nicole
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