Iluminuras
Pára as tuas lágrimas, guarda-as para o fim, ou para um dia mais alegre.
Não esforces a tua alma, mantém-na maritimamente preenchida.
A tua dor não é. Desculpa. A tua dor não foi. Desculpa. A tua dor não será.
Não é, não foi e nem será a única dor no mundo.
Talvez seja até a tua maior dor. Mas relembra: ainda só viveste até agora.
Já ali ao lado, ao virar da esquina, ao atender uma chamada, ao receber uma carta,
ao avistar um casal, pode ganhar figura a tua nova maior dor.
As vias nervosas conduzem a dor corpo acima, corpo abaixo.
E não há medida possivel, nem doutos cientificos que te salvem.
É dor de alma. E para a dor de alma não há analgésico.
Tem-na quem se entrega. Tem-na quem se dedica. Tem-na quem ama. Tem-na quem vive!
Tenho pena de quem não sinta a dor nestas palavras.
Talvez não tenha vivido, talvez tenha até padecido à dor.
Há corações que não sobrevivem. Desistem. Desistem da vida.
Os Resgates são confusos e complexos novelos entremeados.
São a razão porque algumas vezes damos encontrões em pessoas, na rua, sem entender de
onde é que aparecem. Tornam-se tão cinzentas que se confundem com os pavimentos.
Deixam de se ver.
Sabes, detestava dar-te um encontrão desses.
Isso ia significar que nem a cor dos teus olhos iria conseguir ver.
E significava também que o som do piano iria deixar de fazer sentido.
E o que seria das cartas que te escrevo? Para quando te encontrar, as recitar uma por uma,
linha por linha, matemáticas mas inocentes como a tabuada.
Responde-me:
O que seria feito das minhas arquitecturas românticas?
Ou dos meus devaneios eróticamente sensuais?
Pior ainda, como poderei eu voltar a acreditar, se nem tu, nem ninguém voltar a acreditar?
Se a toda a Dor não passar, vou ficar sozinho, sem ter quem amar?
Porque viver é jogo para quatro mãos, dois caminhos, duas vontades.
Pensa comigo, não quero ser uma raça extinta, nem o abominavel homem das dores.
Por isso, rogo-te: Pára! Pára as tuas lágrimas.
Ou melhor, deixa-as chover, para regarem o teu novo jardim, terra fértil de esperança.
"Não me interessa quem foste, mas sim quem és, e quem podes vir a ser para mim...e para ti."
5 Comments:
At 1:31 da manhã, Anónimo said…
Se a dor fosse rara nos seres humanos tambem aqueles que conseguiam atingir a felicidade seriam raros pois "temos de conhecer a tristeza para podermos saber saborear a felicidade" e por isso "tem-na quem se entrega. Tem-na quem se dedica. Tem-na quem ama. Tem-na quem vive!" Assim tal como dizes as lagrimas da dor irão regar a terra do novo jardim.
Adorei o texto, continua a escrever assim e "smile now, cry later"
Beijinho
At 1:39 da tarde, M. said…
damn, tão tão bom, bernardo.
At 7:24 da manhã, Reeho said…
Quando se sente a dor, a magoa, da forma como tu, eu e toda a gente que agarra a vida, ha alturas em q erguemos as nossas defesas em redor do nosso ponto + sensivel. Comecamos a viver de outro modo -- nalguns muda a perspectiva d vida, noutros muda a atitude, noutros... Ate acontece sentirmo-nos tao vazios que pairamos fora do nosso corpo, fazemos-lhe mal sem nos preocuparmos momentaneamente. E quando voltamos a ter controlo sobre os sentimentos (ou achamos que sim), reparamos na merda q foi feita e ficamos pior. Ok, nem todos agem como eu, felizmente... Um beijo*
At 7:07 da tarde, Anónimo said…
:) Belíssimo texto, mais uma vez, parabéns!
Beijinho,
Mara
At 10:21 da tarde, Pocketful of Sunshine said…
Epaaa mando 2 foguetes só por ter vindo aqui parar sem saber como...
Que texto brutal!
Parabens!!
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