A gota
Certa manhã, o perturbador dia nascente, trouxe consigo algo mais que um tímido sol.
Trazia consigo o profundo peso da última gota.
A taça de sofrimentos transbordou e a vida terminou.
Numa dança do destino, ligou-me na noite anterior.
Mais uma pergunta banal, um pedido afavorado rotineiro.
O conforto acolchoado do meu refugio criou um tempestivo "não quero saber, hoje não te
posso ajudar com esse esquema!".
A noticia apanhou-me na sua táctica e surpresa armadilha, num daqueles dias em que
apesar de tudo aparentar normalidade, alguma coisa não bate totalmente certo, alguma peça
do puzzle não esta encaixada.
Afinal, essa foi a derradeira conversa. Não sei ao certo quanto minutos ou horas depois a gota
esgorregou levando-o consigo para outro local.
Acredito que essa sensação surge porque o nosso Criador, decidiu enquanto nos moldava os
corações, colocar um pouco do coração de cada um misturado no nosso. Surge assim a
compaixão e a tolerância.
Talvez por isso seja tão intimo este pesar de culpa, que no fundo não tem substância a não
ser na cabeça. Mas não deixa de ser irónico, quando julgas que uma simples palavra tua
vire gota, ou a última gota.
Neste ultimo reduto, um não, é um meteorito que cai do céu, arrasando com a última réstia
de esperança de que afinal, o nosso criador nunca nos coloca dores maiores que aquelas que
sabe que conseguimos ultrapassar.
Somos todos daltónicos às cores da morte.
Se calhar, comigo, houve um engano, e todos estes sinais são a minha condenação.
E tendendo o Universo para o equilibrio, cabe-me a mim repor o balanço.
O silêncio, é a minha estrada.
Coveiro, quando escavares a minha última morada, fa-la pouco funda, para que eu possa sentir
a chuva nos dias tristes, e descobrir que afinal o céu também chora.
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