A tempestade do Destino
A Tempestade do Destino
Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar.
(...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros. E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.
Haruki Murakami, in 'Kafka à Beira-Mar'
4 Comments:
At 10:16 da tarde, Dina Faria Estassi said…
Sim... as tempestades da vida são imensamente dolorosas... levam-nos até ao infinito da dor...levam-nos na corrente incontrolável de um mar agitado... mas de alguma forma passamos por essa tempestade escura e de morte, e essa corrente que nos levou para tão tão longe... devolve-nos à costa onde existe sempre um recomeçar... Talvez não estejamos diferentes, mas sim amadurecidos e prontos para aprender a amar cada momento da vida e ser simplesmente felizes...
Este percurso através das tempestades pode ser solitário ou não... eu jamais me senti só... o meu Deus, ou como Lhe queiras chamar, não importa o Seu nome, esteve sempre ali para mim...
At 1:34 da manhã, Anónimo said…
"...como tudo, as palavras têm os seus quês, os seus comos e os seus porquês. Algumas, solenes, interpelam-nos com ar pomposo, dando-se importância, como se estivessem destinadas a grandes coisas, e, vai-se a ver, não eram mais que uma brisa leve que não conseguiria mover uma vela de moinho, outras, das comuns, das habituais, das de todos os dias, viriam a ter, afinal, consequências que ninguém se atraveria a prever, não tinham nascido para isso e contudo abalaram o mundo." Saramago
At 9:11 da tarde, Anónimo said…
tou a ressacar...:((((
escreve algo pleaseeeeee!
At 8:28 da tarde, Eunice Faria said…
Então Bernardo??
Cadê um novo post?
Não me digas que não tens escrito?
Muito ocupado????
Beijos....
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