P. era uma mulher jovem activa e cheia de objectivos. Determinada no seu passo elegante e moderno, era o estereótipo da actual mulher fashion.
F. por sua vez não era um típico homem nacional da classe executiva liberal, apesar do seu cargo importante, fugia dos colarinhos apertados e sedas engravatadas como o clero foge do demo. "As iludências aparudem", como sempre lhe disse a sua mãe maior em pequeno, por isso genuíno é a qualidade que assenta como apelido à sua sombra. Ninguém desconfiava que o Sr.Dr. por trás da sua imagem de poder, calça sandália, veste calção e gosta de ler na praia ao fim do dia, ao sol quase posto, enquanto medita na infinita expansão do nada.
P. e F. estavam juntos em vida há quase 3 anos e meio, quase, quase 4.
Viviam perto um do outro, mas planeavam viver ainda mais perto, tão perto quanto a pele permitisse chegar.
P. via em F. a estranha clareza das respostas transparentes como água nascente e maravilhava-se com a sua abstracção... Adorava vê-lo perder-se no meio da conversa, naquele aranhiço, ou a desenhar espirais na terra com as canas, ou fazer naves espaciais com os pacotes de açucar quando tomavam café. Maravilhava-se com a sua simplicidade e profundidade, com o modo como sendo tanto, conseguia transformar o mais sonante atributo profissional e social em nada.
F. por sua vez apaixonou-se por P., e sabendo muito bem que tinham muito pouco de comum entre eles, continua a não saber porquê...afinal de contas, o amor é sempre uma pergunta e nunca uma resposta.
Aproximava-se o aniversário do primeiro beijo que os uniu, e P. andava temerosa que F. não se lembrasse, nem passasse cartão a essa data, como muita vez faz com os "dias do marketing".
E de facto, F. andava meio estranho... Cansado, sempre exausto e sem vontade de encarnar o amor no leito, entrando mudo e saindo calado.
P. desconfiada, como insegura mulher que é por baixo do caro tailleur, resolveu telefonar para o escritório onde a secretária lhe respondeu que o Dr. não se encontrava nem tinha aparecido de manhã na firma.
À noite, perguntou-lhe languidamente, sentando-se no seu colo enquanto F. comia a sopa, que tal tinha sido o seu dia de trabalho, ao que ele respondeu sem levantar os olhos da mesa "Foi duro, desde manhã cedo até ao finalzinho da tarde, só afazeres na firma, sabes como é o final do mês querida...".
Nos dias seguintes, passou a ligar todas as manhãs, e sempre encontrava a mesma resposta do outro lado da linha... Ao fim de 7 dias, a lágrima já rolava trazendo consigo todas as maldades que o seu coração tinha sofrido até à data... Afinal F. era como os outros...Não, não podia ser!!
Resolveu segui-lo.
Na manhã seguinte, saiu mais cedo como de costume, mas estacionou oculta, e preparou-se para o seguir.
A sua secreta investigação levou-a até à porta de um prédio numa rua traseira a uma das principais avenidas da cidade. Então reparou que F. transportava consigo a tiracolo um saco de viagem preto, quando tocou à campainha e a porta abriu.
No dia seguinte, seguiu-o novamente, e terminou exactamente no mesmo lugar. E assim foi, durante mais três dias, onde angustiada e amargurada, começou a conjecturar novelas e arlequins.
Ao quarto dia, tudo semelhante aos dias passados, excepto que, desta vez a porta não abriu como de costume, e ao fim de duas calcadelas na campainha a porta não abriu. Eis então que surge uma figura feminina, sorridente e esbelta, delicada e de sorriso convicto e sincero. Cumprimentou F. com um beijo na cara e puxou-o para dentro do prédio agarrando-o pela mão como se fosse uma bailarina.
P. rebentou em lágrimas... os seus receios confirmaram-se.
Foi para casa, arranjou uma desculpa escrivinhada em papel e saiu imediatamente. Ligou nervosa para a sua melhor amiga e foram jantar.
Em seguida, foram beber um copo para lastimar à amiga a sua ruina interior.
Fogosa de signo, descompensou nos etanois e éteres a sua raiva e tristeza...
Pouco bastou para estar rodeada de egos e olhares masculinos, competindo pela sua atenção.
E P. debilitada, cantou a canção do engate, saiu embriagadamente acompanhada, sem nome, sem rosto, apenas presença.
Consumou a sua vingança ávidamente, enconstada à escuridão urbana, foram vultos.
Parou, ajeitou a saia e chorou trémula cuspindo asco e dor.
Foi para casa.
No dia seguinte,faltavam 2 dias para o aniversário do primeiro beijo, enturpecida por tudo o que tinha passado, deixou-se ficar na cama, deixou de lado os afazeres laborais, e fechou-se na sua concha.
Hoje ia confrontar F. com o sabia.
Esperou, imaginando tudo o que iria ser dito, e argumentava contra si própria, contra ele. A raiva aumentava, e aumentava.
Finalmente a porta deu rumor de utilidade ao fim da tarde. Era ele.
P. explodiu, começou a cuspir palavras como metralhadora.
F. ouviu atónito...
P. continuou, confessou a sua vingança. Rebaixou-o, ofendeu-o, humilhou-o, sempre sem tão pouco deixar F. interromper.
F., a unica reacção que teve foi ir ao quarto, passando por ela enquanto ela barafustava e gritava com ele.
Voltou com o tal saco de viagem preto e atirou-o para cima dela. Depois deixou-lhe um envelope em cima da mesa da sala e disse-lhe em tom seco e grave: "Abre!"
E fechou a porta de casa dela atrás de si.
P. correu a abrir o envelope: continha dois convites para uma gala com jantar, de danças de salão, num dos hoteis mais requintados dos arredores. Não percebeu o porquê, tirando o facto de adorar dançar.
Foi abrir o saco preto.
Nervosa, as mãos tremulas revelaram o conteúdo do saco: umas calças pretas e uma camisa azul turquesa, uns sapatos finos - um fato completo de dança!?
E no fundo, enrolado numa toalha, um cartão de negócios dizendo "Prof. Susana Alves, Prof. de Danças Clássicas e respectiva morada" e nas costas, um plano de aulas, coincidindo com todos os dias que ela o seguira e telefonara...
P. estacou, em choque e levantou-se para ir buscar o envelope com os convites que entretanto jogara para o chão, bem devagarinho.
Foi espreitar a data do evento: era a data do aniversário do primeiro beijo!
P. caiu, agarrou-se ao saco preto e chorou, chorou, chorou.
F. por sua vez não era um típico homem nacional da classe executiva liberal, apesar do seu cargo importante, fugia dos colarinhos apertados e sedas engravatadas como o clero foge do demo. "As iludências aparudem", como sempre lhe disse a sua mãe maior em pequeno, por isso genuíno é a qualidade que assenta como apelido à sua sombra. Ninguém desconfiava que o Sr.Dr. por trás da sua imagem de poder, calça sandália, veste calção e gosta de ler na praia ao fim do dia, ao sol quase posto, enquanto medita na infinita expansão do nada.
P. e F. estavam juntos em vida há quase 3 anos e meio, quase, quase 4.
Viviam perto um do outro, mas planeavam viver ainda mais perto, tão perto quanto a pele permitisse chegar.
P. via em F. a estranha clareza das respostas transparentes como água nascente e maravilhava-se com a sua abstracção... Adorava vê-lo perder-se no meio da conversa, naquele aranhiço, ou a desenhar espirais na terra com as canas, ou fazer naves espaciais com os pacotes de açucar quando tomavam café. Maravilhava-se com a sua simplicidade e profundidade, com o modo como sendo tanto, conseguia transformar o mais sonante atributo profissional e social em nada.
F. por sua vez apaixonou-se por P., e sabendo muito bem que tinham muito pouco de comum entre eles, continua a não saber porquê...afinal de contas, o amor é sempre uma pergunta e nunca uma resposta.
Aproximava-se o aniversário do primeiro beijo que os uniu, e P. andava temerosa que F. não se lembrasse, nem passasse cartão a essa data, como muita vez faz com os "dias do marketing".
E de facto, F. andava meio estranho... Cansado, sempre exausto e sem vontade de encarnar o amor no leito, entrando mudo e saindo calado.
P. desconfiada, como insegura mulher que é por baixo do caro tailleur, resolveu telefonar para o escritório onde a secretária lhe respondeu que o Dr. não se encontrava nem tinha aparecido de manhã na firma.
À noite, perguntou-lhe languidamente, sentando-se no seu colo enquanto F. comia a sopa, que tal tinha sido o seu dia de trabalho, ao que ele respondeu sem levantar os olhos da mesa "Foi duro, desde manhã cedo até ao finalzinho da tarde, só afazeres na firma, sabes como é o final do mês querida...".
Nos dias seguintes, passou a ligar todas as manhãs, e sempre encontrava a mesma resposta do outro lado da linha... Ao fim de 7 dias, a lágrima já rolava trazendo consigo todas as maldades que o seu coração tinha sofrido até à data... Afinal F. era como os outros...Não, não podia ser!!
Resolveu segui-lo.
Na manhã seguinte, saiu mais cedo como de costume, mas estacionou oculta, e preparou-se para o seguir.
A sua secreta investigação levou-a até à porta de um prédio numa rua traseira a uma das principais avenidas da cidade. Então reparou que F. transportava consigo a tiracolo um saco de viagem preto, quando tocou à campainha e a porta abriu.
No dia seguinte, seguiu-o novamente, e terminou exactamente no mesmo lugar. E assim foi, durante mais três dias, onde angustiada e amargurada, começou a conjecturar novelas e arlequins.
Ao quarto dia, tudo semelhante aos dias passados, excepto que, desta vez a porta não abriu como de costume, e ao fim de duas calcadelas na campainha a porta não abriu. Eis então que surge uma figura feminina, sorridente e esbelta, delicada e de sorriso convicto e sincero. Cumprimentou F. com um beijo na cara e puxou-o para dentro do prédio agarrando-o pela mão como se fosse uma bailarina.
P. rebentou em lágrimas... os seus receios confirmaram-se.
Foi para casa, arranjou uma desculpa escrivinhada em papel e saiu imediatamente. Ligou nervosa para a sua melhor amiga e foram jantar.
Em seguida, foram beber um copo para lastimar à amiga a sua ruina interior.
Fogosa de signo, descompensou nos etanois e éteres a sua raiva e tristeza...
Pouco bastou para estar rodeada de egos e olhares masculinos, competindo pela sua atenção.
E P. debilitada, cantou a canção do engate, saiu embriagadamente acompanhada, sem nome, sem rosto, apenas presença.
Consumou a sua vingança ávidamente, enconstada à escuridão urbana, foram vultos.
Parou, ajeitou a saia e chorou trémula cuspindo asco e dor.
Foi para casa.
No dia seguinte,faltavam 2 dias para o aniversário do primeiro beijo, enturpecida por tudo o que tinha passado, deixou-se ficar na cama, deixou de lado os afazeres laborais, e fechou-se na sua concha.
Hoje ia confrontar F. com o sabia.
Esperou, imaginando tudo o que iria ser dito, e argumentava contra si própria, contra ele. A raiva aumentava, e aumentava.
Finalmente a porta deu rumor de utilidade ao fim da tarde. Era ele.
P. explodiu, começou a cuspir palavras como metralhadora.
F. ouviu atónito...
P. continuou, confessou a sua vingança. Rebaixou-o, ofendeu-o, humilhou-o, sempre sem tão pouco deixar F. interromper.
F., a unica reacção que teve foi ir ao quarto, passando por ela enquanto ela barafustava e gritava com ele.
Voltou com o tal saco de viagem preto e atirou-o para cima dela. Depois deixou-lhe um envelope em cima da mesa da sala e disse-lhe em tom seco e grave: "Abre!"
E fechou a porta de casa dela atrás de si.
P. correu a abrir o envelope: continha dois convites para uma gala com jantar, de danças de salão, num dos hoteis mais requintados dos arredores. Não percebeu o porquê, tirando o facto de adorar dançar.
Foi abrir o saco preto.
Nervosa, as mãos tremulas revelaram o conteúdo do saco: umas calças pretas e uma camisa azul turquesa, uns sapatos finos - um fato completo de dança!?
E no fundo, enrolado numa toalha, um cartão de negócios dizendo "Prof. Susana Alves, Prof. de Danças Clássicas e respectiva morada" e nas costas, um plano de aulas, coincidindo com todos os dias que ela o seguira e telefonara...
P. estacou, em choque e levantou-se para ir buscar o envelope com os convites que entretanto jogara para o chão, bem devagarinho.
Foi espreitar a data do evento: era a data do aniversário do primeiro beijo!
P. caiu, agarrou-se ao saco preto e chorou, chorou, chorou.
5 Comments:
At 7:30 da tarde, Anónimo said…
Um mês....desde o primeiro nó da nossas corda....
O nosso porquê não tem resposta....será sempre uma eterna pergunta...
Desassossego...Inquietude...
Talvez.....
Mas ficaste...como tatuagem..*
P.
At 6:49 da tarde, perdida em Faro said…
Até tenho medo de escrever depois do comentário anterior.
Não ando muito bem. Aliás, ando muito mal mas passo por aqui e quero dizer-te que no meio da história há uma coisa boa. Ela tinha uma amiga a quem ligar, arranjou gajos para desanuviar e no fim ficou a saber que tinha quem a amasse. Era estúpida e i incapaz de perguntar desde a primeira manhã onde ele tinha estado. Os homens apaixonados fazem loucuras e elas são tão viradas para o amor delas que não vêm o deles e depois dá nisto: estupidez mental. Por essas e por outras é que cada vez é mais difícil de encontrar um homem apaixonado.
Fica bem e procura a pergunta e a resposta. Elas existem e quando as encontramos em conjunto sabe muito melhor.
At 5:25 da tarde, perdida em Faro said…
Já não escreves há muito muito tempo...eu queixo-me.Gosto de te ler...
At 10:20 da tarde, Anónimo said…
Fez cair uma lagrima q n esperava... lindo, sem duvida...
At 1:58 da manhã, Anónimo said…
Desculpa a invasão mas fiquei "colada" ao texto...
Enquanto escrevo estas palavras, não consigo deixar de lado a tristeza que estou a sentir só de pensar na grande possibilidade da história se ter passado mesmo.
Na realidade, por vezes o amor que sentimos por outra pessoa é tão grande, que o medo de a perder faz com que tenhamos atitudes menos boas... Infelizmente é mais uma história que mostra ao mundo que o diálogo, a confiança e a sinceridade são essenciais...
É o eterno problema (que eu não consigo compreender) que as pessoas têm em falar sobre os seus sentimentos. Enfim...
Fika bem. E se esta triste história faz parte da tua vida, mta força e mta paz ;)
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