Blue Living - Be water my friend..

...mais do q pessoal, reflexoes sobre a crescente desumanidade social e sobre as nossas lendas pessoais...a minha? o mar!

domingo, julho 25, 2004

Como de um rosto desfigurado se tratasse, cicatrizado pela agonia da vida, pela desilusão das pessoas, a minha vida era uminferno - e era domingo.Só quem sabe como são aqueles domingos do fim de setembro entenderá o que falo.As lágrimas doiam enquanto rompiam teias familiares e laços afectivos.
Os ecos das vozes alteradas e desumanas, o coro da discórdia, latejavam no vazio da solidão assim imposta. Estava ferido de morte, feridas que sei desde então que levariam uma vida inteira a sarar e cujas cicatrizes nunca maisdesapareceriam nesta vida.
Um par de mãos silenciosas acarinhou-me, sem palavras que as guiassem ou de conforto sem sentido para transportar.
"Banad, bora, está off shore no outro lado, traz as cenas e mete as no white pony!Hurry Dude!". Segui-os, e lá partimos deambulando pela 125, ouvindo os seus relatos da noite anterior, deixando escapar apenas um "pois" ou um "ah foi?" para oxigenar a conversa.
A paisagem descobriu-se e as casas desapareceram para ceder passagem a sua majestade, o Oceano. Descemos até ao Castelejo em ansiedade, e a cada curva da estreita estrada, os pescoços esticavam-se nos limites do humanamente possivel, procurando a rebentação.
Estava perfeito. Entenda-se, "movie perfect" mesmo! O pico escorria no centro da praia, tanto para a esquerda como para a direita, com a onda sempre, lençol transparente, quebrando até à areia, que na altura ainda não tinha dado a descendênciade calhaus que agora lá habita.
Caimos de imediato nos seus encantos, e eu pachorrento, fui o ultimo a entrar. Vi-os desaparecer por detrás de uma onda do set, e no preciso momento em que esta praia virada a oeste se revelou para o sol em queda, uma figura de contraluz e sonho desceu a onda, largando um bottom turn tão impressionante quanto belo, para se lançar sobre o lip em queda e mostrar o real sentido da palavra voar. Gritei. Gritamos. Sorri. Sorrimos.
Olhei para o meu brother in mars, ou irmão de março, e tudo foi preciosamente guardado.
Foi a minha vez de procurar uma massa no horizonte, com o meu destino nas suas encostas. Não hesitei, apontei a fraca prancha emprestada para a margem, e remei como se da minha vida dependesse aquela onda. Nunca mais a esqueci. Não foi a maior, muito menos aquela que fiz a tal manobra ou o tal tubo, mas foi sem duvida a mais bonita.
Essa onda naquele dia deixou me inquieto, pois teve tanto de beleza quanto de sabedoria.
Percebi, que o amor que devolvemos ao mundo, é aquele que acabará por voltar para nós, desarmando todos os nossos inimigos e secando todos os conflitos. O amor é uma força universal, e espero que um dia, algum cientista apaixonado pela essência das coisas, consiga provar que o amor é uma força física e medi-lo. Gostava de saber quanto mediria o amor de uma mãe pelo seu filho, ou de um avô pelos seus netos. E gostava que certas e determinadas pessoas descobrissem que temos tanto de água como de amor no nosso corpo.
No meu caso, olhando para dentro e medindo o meu peso, acho que acabam por ser os dois a mesma coisa.
Abracei o meu passado, e ele devolveu me o que havia perdido - uma familia - e no fim do dia havia me encontrado finalmente.
O meu rumo está traçado desde então... Água Vs Amor.